
Desde 1960, Angola estava em tempos de desenvolvimento económico e demográfico, com reflexos na criação de novos espaços de lazer. O país assistia ao culminar de um movimento evolutivo das casas de Cinema que tinham começado nos anos 1930 com os Cine-Teatros em estilo Arte Déco, progredindo nos anos 1960 para os moderníssimos Cine-Esplanadas e já nos anos 1970, à beira da independência, para os Cine-Estúdio.
Quando se proclamou a independência de Angola, em 11 de Novembro de 1975, uma nova casa de espectáculos estava em fase de acabamentos em Moçâmedes, cuja arquitectura pouco usual, futurista, cósmica, espacial, fazia lembrar um OVNI com as suas “garras” fincadas à terra. Era a materialização do modernismo elevado à sua potência máxima em terras do Namibe.
Desconhecemos o nome que lhe estava destinado. Segundo uns, esta nova casa de espectáculos iria chamar-se “Arco Íris”, tal como o Cinema de Sá da Bandeira. Segundo outros, seria o “Cine Welwitschia”, enquanto para outros seria o “Cine Stúdio”, e para outros ainda, o “Cine Satélite”.
Desenhado pelo arquitecto português, Botelho Pereira, o cine foi inspirado nas criações do brasileiro, Oscar Niemeyer. Foi abandonado há 50anos, nunca exibiu nenhum filme sequer, deveria ser a primeira sala de cinema da capital do Namibe.
Repare-se na arquitectura dos interiores, nos pormenores dos altos-relevos das paredes das galerias que circundam a sala de espectáculos. Tem figuras humanas que evocam vivências do tempo colonial, num dia de verão na “Praia das Miragens”, a fauna da pesca, integrando pescadores algarvios e africanos, a fauna do Deserto do Namibe (a avestruz, a impala, o rinocerante), a inconfundível welwitschia mirabilis, os cactos, a espinheira, mas também a agricultura das várzeas do Béro e do Giraúl aqui representada com o cultivo da vinha e da oliveira. E ainda o casal mucubal, a etnia mais representativa da região.
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