No coração de Angola, o planalto central abriga não apenas belas paisagens e tradições ancestrais, mas também uma das cozinhas mais autênticas do país. Nos municípios das províncias do Huambo e Bié, dois ingredientes se destacam como pilares da alimentação e da identidade cultural local: o milho e a mandioca.
Estes dois produtos agrícolas não são apenas fontes de sustento, mas também verdadeiros símbolos de ligação com a terra e com os saberes passados de geração em geração.
Milho
O milho é o grão mais cultivado e consumido na região. Dele se faz o tradicional funge de milho, um acompanhamento indispensável em quase todas as refeições, servido com molhos ricos em proteína vegetal ou animal. Além do funge, o milho também é usado na produção de papas, bebidas fermentadas tradicionais e até em bolos e doces típicos.
Para além de sua versatilidade, o milho representa a resiliência do povo do planalto, que adapta suas técnicas de cultivo às condições climáticas desafiadoras e mantém viva a tradição do cultivo manual e comunitário.

Mandioca
A mandioca, por sua vez, é outro ingrediente fundamental. Rica em amido e altamente energética, ela aparece de várias formas na gastronomia local: cozida, frita, seca ou transformada em fuba de bombó, que também é usada na preparação de funge ou de bolos e mingaus.
A mandioca não é apenas alimento – é memória e herança. O seu cultivo exige conhecimento ancestral, desde a colheita até o processamento para eliminar substâncias tóxicas presentes na raiz crua. No Bié e no Huambo, cada comunidade guarda seus segredos e rituais em torno da produção da mandioca.
A culinária do planalto central baseia-se em ingredientes locais, sazonais e sustentáveis. Além do milho e da mandioca, hortícolas, feijões, folhas como a kizaca e carnes locais complementam os pratos. Esse modelo de alimentação representa não apenas um modo de vida, mas também uma alternativa saudável e ecológica frente às dietas industrializadas.

Falar da culinária do Huambo e Bié é falar de identidade, resistência e ligação à terra. O milho e a mandioca, além de alimentarem corpos, alimentam histórias. São eles a alma da cozinha do planalto central angolano – simples na aparência, mas profundos em significado.