Elyzandra Deonara é uma jovem bastante forte, com muitos sonhos ainda por realizar, por se tratar mesmo de uma “menina” de apenas 18 anos, que com bastante determinação e resiliência conseguiu ultrapassar preconceitos e bullying devido a ser albina.
É vista pelos amigos como conselheira, humilde, com empatia para dar e vender também. Alguém que sabe reconhecer os seus erros e assumi-los, que gosta de fazer as pessoas acreditarem em si próprias, uma influencer, diga-se!
Elyzandra Deonara assume-se por “Urano”. Segundo ela, esta alcunha vem infelizmente de uma história triste. Antes de ser só “Urano” era “Empty Urano” (que significa “Urano Vazio” em inglês), “porque estava a passar por uma fase depressiva e quis desligar-me do mundo”, então procurou um outro planeta de que pouco ouvia.
“Gostei de Urano e determinei-o meu. Mas graças a Deus a fase mais profunda da depressão passou e Deus colocou muita gente maravilhosa na minha vida, hoje Urano não é mais vazio, está cheio de pessoas que eu amo”, explicou, de forma descontraída e confiante.
Durante uma conversa com a Chocolate Lifestyle, Urano, que é gestora de Conteúdos na Zap Viva e modelo comercial, contou um pouco da sua infância e da forma como “venceu” algumas barreiras impostas pela sociedade por ser albina.
1- Como foi a sua infância?
A minha infância… bom, eu não gosto muito de falar sobre este assunto, mas cá vai. Graças a Deus nunca me faltou comida, roupas, casa, escola, educação familiar, amor. Porém, digo que em muitos momentos (os que eu achava mais essenciais) – e que já concluí que são essenciais na vida de qualquer criança ou adolescente – foi a presença paternal, fui durante algum tempo filha de pais separados, tive uma infância muito agitada e que me causou muitos danos psicológicos, hoje graças a Deus os meus pais estão novamente juntos e estão felizes.
Por causa de todas estas coisas, tornei-me muito madura já desde tenra idade, o que me ajudou a passar por cima de muita coisa.
2- Enquanto criança, como conseguiu lidar pelo facto de ser diferente das demais crianças?
Bem, a minha mãe sempre fez questão de me fazer entender que eu era e sou normal como toda e qualquer criança, ela educou-me da mesma maneira que educou o meu irmão mais novo e nunca me tratou como diferente, então eu sentia-me normal. Se eu errasse ela repreendia e dava os devidos correctivos.
Há gente que pensa que a minha mãe nunca me deu nem uma palmada, mas enganam-se. Sempre lidei bem com outras crianças e parecia que elas nem prestavam atenção a esse pormenor.
3- Alguma vez pensou em desistir de frequentar a escola devido ao preconceito?
Não, nunca pensei em deixar de ir à escola, até porque eu desde muito cedo criei um escudo contrara más energias passadas pelos outros.
4-Já foi vítima de discriminação ou qualquer tipo de bullying por conta do albinismo?
Já sofri preconceito (bullying) directo uma vez e indiretamente várias vezes e soube lidar com isso muito bem.
5- Como olha para a questão da conscientização do albinismo?
É algo que ainda está muito cru, como se diz na gíria, porque da mesma forma que não se dá muito a pessoas com essa particularidade, muitos albinos não correm atrás por se sentirem oprimidos. E muitos estão à espera de ser destacados para lutarem, só que isso não funciona dessa maneira.
Além do mais ainda não se encontram albinos ou outras pessoas destacadas compadecidas pela causa a lutarem de verdade para a aceitação no seu todo.
Eu particularmente nunca esperei ser destacada para lutar e nem nunca esperarei por isso, luto agora porque é devagar que se vai longe.
6- E da auto-aceitação?
Muitas pessoas ainda acham que auto-aceitação é achar-se bonito/a. Mas o real sentido é “estar contigo mesmo quando todos estão contra ti”, amar-se, cuidar de si mesmo, deixar que as opiniões dos outros sejam apenas para ajudar naquilo que não nos apercebemos e não fazer delas lei para a nossa vida.
7- Para si como está a sociedade angolana em relação a consciencialização do albinismo?
Como eu disse, a situação ainda é muito recente e só comecei a ouvir algumas vozes no ano de 2020, quando me tornei digital influencer.
Os albinos continuam a não ser ouvidos. Mas eu estou a fazer de tudo para que isso mude, sozinha não serei capaz mas sei que se eu der o primeiro passo, mais irão levantar-se e lutar junto.
8- Como superou o preconceito de albinismo?
Não foi uma questão de superar porque nunca me afectou. Tudo é uma questão de fazer ouvidos de mercador e focar-me nos meus objectivos, a boca das pessoas não me vai pagar contas nem dar-me o futuro que programei para mim.
9- Sempre pensou em trabalhar como modelo?
Sim, sempre foi uma vontade minha e que eu pensei que nunca fosse realizar.
10- Sendo modelo comercial, foi fácil a aceitação ?
Nós não agradamos a todos, mas ser albina nunca me impediu de cumprir com nada que tenha programado dentro desse ramo.
11- Como é sua rotina e dia a dia com o albinismo?
Eu vivo o meu dia a dia de forma normal, como uma jovem normal, que trabalha e estuda.
Por eu não sofrer tanto preconceito, sofro mais assédio, o tipo de albinismo que tenho é um dos poucos casos raros e por causa disso não tenho a pele enrugada ou problemas na pele.
SOU Mulher e os homens acham que por ser uma Albina “bonita e diferente dos outros” (aos olhos deles)- e que todos os albinos são carentes de atenção – têm o direito de elogiar de qualquer forma, falar de qualquer maneira e nós devemos aceitar. Só que se enganam.
12- Quais os maiores desafios?
Eu não encaro nada como um desafio e sim como treino, para me tornar mais forte. Por isso não há desafios.
13- De tão jovem que é e fazendo tanta coisa, considera-se um prodígio?
Na verdade não, (risos), mas me considero batalhadora e persistente.
14- É criadora de conteúdo há quanto tempo?
Sou criadora de conteúdo há 11 meses.
15- Na Zap, qual foi o programa que idealizou em termos de conteúdos?
Bom, em termos de conteúdo sempre me fixei no entretenimento e Deus abençoou-me e colocou-me onde sempre quis estar, com uma equipa fantástica. De forma pessoal sempre idealizei um programa que desse voz aos jovens e a sua criatividade num todo.
16- Em televisão qual é sua meta?
Ser apresentadora de um programa meu, que desse voz aos jovens dos 15 aos 25 ou mais anos de idade. E que tivesse mesmo a ver com a juventude angolana. Com jogos e tudo que há de direito.
17- O que gostaria de mudar em televisão?
O facto de não explorarem a juventude desde tenra idade, temos talentos natos no nosso país, mas ainda assim a televisão angolana não foca nisso, mas olham para as celebridades mirins de outros países e aplaudem, mesmo que não permitam aos seus florescer.
18- Aceitaria o desafio de apresentar um dia um programa?
Aceitaria com muito prazer e esforçar-me-ia para honrar isso.
19- Para além de modelo comercial e criadora de conteúdos, é também influencer, de que maneira consegue influenciar a vida dos jovens, às vezes com o mesmo histórico que o seu?
Acredito que só o facto de eu conquistar tudo o que conquistei até hoje e em tão pouco tempo, já serve como fonte de inspiração para muitos jovens.
20- Qual é a sua área de formação?
Eu estou no último ano do médio e estou a frequentar o curso de Ciências Económicas e Jurídicas, pretendo licenciar-me em Ciências da Comunicação.
21- Qual é o seu maior sonho?
Tenho o sonho de ser referência para as pessoas, ser alguém que inspira outros a não desistirem dos seus sonhos.
22- Cor favorita?
Não tenho( risos), eu amo todas, sou um arco-íris.
23- Por ser modelo, é muito vaidosa?
Sou vaidosa, mas não por ser modelo, sou assim desde pequena.
24- O que não pode faltar no seu guarda-fato?
Não pode faltar nada, tudo é essencial, o importante é eu estar vestida e sou, (do meu jeito), minimalista.
25- Urano não vive sem?
Eu não vivo sem o meu sorriso.
26- Um país de sonho?
Na verdade não tenho, porque sonho viajar para várias partes do mundo e conhecer culturas e paisagens diferentes.
27- O que a motiva todos os dias?
Sou motivada todos os dias porque sei que sempre vou sentir-me satisfeita e orgulhosa de mim com cada conquista e saber que moverei outros jovens.
28- O que gostaria de dizer às pessoas que possuem albinismo também?
Movam-se, lutem, corram atrás e párem de se prender aos padrões.
29- O que gostaria de mudar no mundo?
O facto das pessoas acharem que têm o direito de deixar cair os mais fracos, para subirem de nível e o facto das pessoas quererem meter-se na vida de outrem.
30- Por quê?
Primeiro, porque não acho justo e cada um escolhe o quer para si e para a sua vida.
31- Como gostaria de ser lembrada um dia na sociedade?
Como a albina que lutou e nunca desistiu, mesmo quando tudo parecia desmoronar.
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