Se existe estilista a quem devemos prestar atenção quando fala sobre moda, é Rose Palhares. Desde que lançou a marca Rose Palhares, há 10 anos, a estilista tem dado cartas no mundo da moda, com colecções desenhadas a pensar nas mulheres activas que valorizam o conforto e a praticidade.
Em conversa com a Revista Chocolate, debruçou-se sobre o mercado e o mundo da moda, que afinal são duas coisas diferentes. “No mercado estamos a falar de indústrias, comércio e outros, já o mundo da moda, ele continua a acontecer, embora meio adormecido”.
Por outro lado, o mercado da moda já viveu dias melhores, hoje, quase não se vive só de moda, sendo comum modelos abonarem o barco. Rose Palhares tem algo a dizer, a que chamamos recomendações de ouro para profissionais da moda.
“Se formos a ver, a moda enquanto modelos é um trabalho não a tempo inteiro, mas em part-time”, elucidou. “Quando tens uma marca e apresentas sazonalmente as colecções, precisas de modelos para as apresentar. Se formos a olhar para o calendário de moda em Angola, estas apresentações acontecem duas vezes por ano. Se és uma modelo e trabalhas numa agência de modelos, o primeiro passo é saber em que agência estás integrada para então saber se existirá trabalho suficiente. Nem mesmo as modelos consagradas cá em Luanda têm um emprego fixo. Então, antes de reclamarmos, ou entrarmos em qualquer trabalho relacionado com a moda é preciso ter a noção se isto nos vai sustentar, ou seprecisaremos de um outro ofício para não estarmos dependentes e cairmos em reclamações. Ainda que nos desfile de moda estivessem activos, são apenas dois por ano, ainda que todos os estilistas tivessem de fazer sempre produções fotográficas, nem sempre se consegue um emprego que sustente por completo. Isto acontece em todas as esferas da sociedade, quanto mais para uma modelo que não trabalha 8 horas por dia mensalmente.
E não podemos comparar-nos com modelos lá fora, onde a moda existe há mais de 100 anos, em que as marcas trabalham para isso, a sua economia depende disto. Cá em Angola estamos a descobrir tudo, ainda assim temos o péssimo hábito de nos comparar com países que estão muito mais desenvolvidos.
Temos de passar a olhar para a nossa moda como a nossa realidade. Por exemplo, quando faço os meus desfiles de moda, a maior parte das minhas modelos são mulheres reais. Isto porque primeiro preciso que a minha cliente ao olhar para a moda se identifique. Segundo, eu não posso sempre usar roupas em modelos extremamente magras, que as vezes não têm a atitude que eu quero”, disse, referindo-se ao conhecimento.
“Às vezes faltam-lhes estas orientações, a vontade, a garra. Não podes dizer ‘quero ser modelo’ porque alguém disse que tens altura e rosto. Isso não vai durar para sempre, outras modelos virão, meninas mais preparadas também virão. É como no futebol, vais fazer, mas faz bem e não coloques todos os ovos num único cesto.
É uma preparação que tem de ser feita em todos os ramos. Uma modelo está à frente do seu negocio: é o corpo, a cabeça e a mente do negócio. Ela alimenta-se não só em termos de comida, mas em termos de conhecimento.
Quando contratamos modelos também queremos que nos agregue valor. Se elas (as agências) começarem a importar-se com isto, a postura das modelos não vai ser efémera.
Não podemos dar nada por garantido, muito menos compararmo-nos com quem está a fazer sucesso, pois não sabemos o que elas tiveram de passar e abdicar. No final das contas, sorte é isso, estar preparada para quando a oportunidade chegar”, finalizou.
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