O que mais te preocupa, enquanto gestor? O cargo ou o trabalho em si?
O título chegou antes do cansaço, vieram as palmas, as promessas, os discursos prontos. Estava ali, na cadeira que muitos sonham, poucos ocupam e quase ninguém compreende. Gestor, líder, responsável por uma área. Uma dessas palavras com peso de concreto, que afunda ou sustenta, dependendo de quem a carrega.

Mas o que mais me preocupa não é o cargo, o crachá não trabalha sozinho. Preocupa-me o trabalho em si, a rotina que não tem glamour, os desafios que não cabem nos powerpoints, as pessoas que, ao contrário das metas, choram, riem, sonham, resistem. Preocupa-me a cultura da superficialidade, onde parece mais urgente “parecer estar a liderar” do que, de facto, liderar, onde o foco está no ego e não no eco: o que deixamos ressoar depois das decisões.
E o contexto? Ah, o contexto… esse senhor silencioso que sussurra nas nossas costas enquanto tentamos mostrar segurança, ele pesa, sim, uma liderança exercida num ambiente adoecido, adoece também. Um bom líder pode ser engolido por uma cultura que valoriza mais a obediência do que a inovação, mais o título do que a escuta, mais o controle do que a construção colectiva.
Há dias em que ser gestor é como remar contra uma maré que insiste em elogiar quem faz bonito, não quem faz certo, mas, como inconformado por natureza, sigo, porque liderar, para mim, é mais verbo do que substantivo, e é verbo no presente, urgente, inquieto. É trabalho de formiga, é entrega silenciosa, é a arte de descer do pedestal para ouvir quem nunca foi ouvido. É saber que o resultado que vale a pena não é apenas o do relatório trimestral, mas aquele que muda mentalidades, que inspira caminhos, que resgata a dignidade do outro.
Portanto, caso me pergunte, o que mais me preocupa enquanto gestor, respondo sem hesitar: é esquecer o propósito em nome do prestígio, é deixar de ser inconformado, é colocar a mão na massa, mesmo quando os holofotes se apagam, é perceber que nem todos vão perceber, muito menos seguir a nossa pedalada, porque se calhar, ainda nem aprenderam a andar rápido, mesmo os anos de trabalho que se muito se confunde com os anos de experiência.
Porque quem se conforma com pouco, não transforma nada!