O percurso da estilista e designer angolana Luísa Sanda é mais do que uma história de sucesso — é um manifesto de autenticidade, força e propósito. Criadora da marca Lusanda Couture, que surgiu em 2019, Luísa conquistou, em poucos anos, um espaço de destaque na elite da moda angolana e africana, com uma estética que privilegia a modéstia, a decência e o empoderamento feminino.
Numa entrevista cedida à Revista Chocolate Lifestyle, conta que com nove colecções oficiais no portfólio, olha para cada uma como um capítulo da sua própria metamorfose. Destaca momentos-chave como THE PRINT, o seu primeiro desfile individual; TRAVESSIA1.0, a sua estreia internacional; e METAMORPHOSIS, uma colecção que, segundo a criadora, “exigiu alma e entrega total”. Os best-sellers LUXURY KIMONOS, BOUBOUS e SAFIRAH’s consolidaram ainda mais a presença da marca no guarda-roupa da mulher africana contemporânea.

A estilista reconhece que a sua ascensão meteórica está ligada à coerência e originalidade com que constrói o seu universo visual. “Acredito que a autenticidade tem um som que ecoa longe”, confessa. Esse som já chegou a Moçambique, Windhoek e Lisboa, onde apresentou criações que celebram a estética africana com sofisticação e identidade. Luísa defende que a moda angolana tem potencial para ser uma ponte entre o tradicional e o vanguardista, mas reforça a necessidade de mais estrutura e visibilidade.
Com um processo criativo visceral — que parte de sentimentos, palavras e símbolos antes de se transformar em formas e tecidos —, Luísa Sanda não apenas desenha roupas: constrói narrativas visuais que vestem alma. “Escrevo antes de desenhar. É um mergulho profundo que só termina quando a peça desfila com alma”, partilha.
Mas ser uma mulher estilista em África também exige resiliência. “O maior desafio local é ser levada a sério sem precisar endurecer. Ainda somos testadas, questionadas e invisibilizadas”, aponta.
Apesar disso, acredita que consistência, firmeza e uma rede de apoio são ferramentas essenciais para ocupar o espaço com elegância e força. Fora da passarela, Luísa é mãe, esposa e apaixonada por informática — a sua formação académica original.

Quando não está entre linhas e tecidos, dedica-se ao mundo digital, onde explora softwares, cria e se inspira. “É como se fosse uma extensão silenciosa da moda”, revela. A sua criatividade é alimentada ainda por momentos de introspecção, oração e retiros de silêncio. “Não há sucesso que valha se custar a paz.”

A marca Lusanda Couture já produz acessórios como cintos e turbantes, e Luísa tem planos de expandir para fragrâncias e calçado. “A roupa é só o começo. A visão é global e sensorial”, afirma.
E se pudesse dar um conselho à jovem que começou em 2019? “Faça com medo mesmo. Só não te esqueças de quem és.” Porque para Luísa Sanda, o futuro é feminino e africano — e a moda é o espelho dessa revolução.


Texto: Gracieth Issenguele