Taco com Nfúmbua no mesmo prato, uma mistura impensável. Poderia até levar qualquer leigo a acreditar que se tratava de alguma inovação, produto de invencionices gastronómicas, embora tenha ouvido algures que cozinha é invenção. A verdade é que estamos todos longe de conceber uma comida mexicana com as folhas desfiadas originárias das matas do norte do País, cozidas com água e temperos adicionado peixe fumado.

O Taco é uma comida típica do México, que se popularizou nos Estados Unidos, feita com massa fina de milho frita, parecido ao pão de Faíta. Dobrada no formato de uma concha por dentro entra recheio de frango ou carne de vaca e um molho de salada caprichosamente preparado. Acredita-se que tenha sido inventado pelo 5.° imperador asteca: Monteczuma (1398 e 1469 d.C). O pitéu, que já ganhou muitos fãs no Prova D’Art, é vendido numa das quiosques. As três “conchas”, como é servida, coabitavam com a Nfúmbua pacificamente num prato de barro do kota Herbert Xá-Kimona Agostinho. Mesmo pequeno, o prato branco consentia algumas clareiras lembrando a vista de um gourmet. Já ao lado, o detentor do outro prato preferiu não abusar da sorte para, pelo menos, fechar a importante reunião que o levou naquela tarde ao acolhedor espaço. Limitou-se apenas nos tacos, evitando a mistura com o famoso acompanhante das biladas nas almoçaradas. Analtino dos Santos ‘Rás Kiluanji’, escriba de uma pena que aguça a vontade de revisitar a nossa conturbada história, sobretudo da música popular angolana. Nesta matéria é enciclopédia para muitos incluindo este aprendiz que vos escreve. Era com Rás Kiluanji que Xá-Kimona dividia o papo entre ingerir a exótica mistura e acertar ideias para próximos eventos no centro cultural. A Reunião Familiar – Festa da Tchianda, estava à porta, faltando três dias, mas era momento para se alinhar também os preparativos do xodó do Prova D’Art, o Domingo à Nossa Maneira, não é por acaso, já que o concerto, em que Carlitos Vieira Dias e Konde revistaram o rico repertório de Teta Lando, registou casa abarrotada, literalmente sem lugares disponíveis para se sentar, depois das 18h00, no último Domingo.

Isto é mesmo uma manifestação cultural!, atirei eu, surpreso com a mistura do Taco com Nfúmbua, acabadinho de me juntar à mesa, mas era ao mesmo tempo o intróito de desejo de Bom apetite. Depois de engolir o que mastigava, Xá-Kimona acenou levemente com a cabeça enquanto limpava a boca com guardanapo. Retorquiu sucintíssimo: “Por isso é que isto é Prova D’Art”. E eu vociferei para os meus botões de dentro: e nem mais! Mas por ora convém evitar embarcar nessa aventura. Era preciso preparar – me para dar resposta a um eventual convite. E não tardou foi lançado!.

Catedral da cultura
Se até então a antiga Maria das Crequenhas, ou Centro Cultural Recreativo do Kilamba, no Rangel, granjeou o título de catedral da música, para uns, e mais especificamente do semba, para os mais modestos na avaliação, por reavivar as músicas de raiz, nomeadamente a herança da massemba, o Prova D’Art, no Miramar, está a forjar – se na catedral da cultura.
Tímida tarde de cacimbo preparava-se para dar lugar ao sunset, não é prenúncio de um apupú, como o nome habitualmente sugere – até porque era quarta-feira – era anúncio do pôr do sol.
Numa das tranquilas ruas do Miramar, o letreiro na fachada já é convidativo. A viagem pela mãe natureza começa a sentir-se tão logo se transponha o portão, com o verde a cobrir o piso do espaço, ainda que parte seja sintético. Cai-se-nos a sensação de estar numa mulembeira ou diante de uma cachoeira. Seu carácter selvático é reforçado pela concorrência entre as vendedoras nas cerca de dezena de quiosques que circundam o espaço. Quando há concertos, em que se nota enchente, o espetador é abordado por vezes logo na entrada com um menu sobre a bebida e iguarias propostas. “Temos este prato do dia, temos também petiscos…e sopa …”, sugerem os garçons vindos de diferentes quiosques.
Agenda cultural
O Prova D’Art aos poucos vai impondo uma agenda cultural sólida, que preenche a semana. Domingo à Nossa Maneira, aos Domingos, concerto com bandas, que exploram os sons dos povos angolanos, é o carro-chefe do espaço. Quarta-feira é reservado ao melhor do cinema nacional, com exibições de filmes feitos em Angola, um claro gesto de promoção da nossa produção. Sexta-feira é dia de After work, momento para tirar a gravata, e por vezes o blazer, do salo e desabotoar ligeiramente a camisa que era impensável abri-la no escritório, e manter um papo descontraído entre colegas ou amigos, enquanto se ouve uma selecção de música de adultos proporcionado por um DJ. Os sábados intercalam entre exibição de peças de teatro e Farra na Pista, ambiente que recorda festa de quintal, onde se privilegia o risco no chão com uma boa passada.
Uma vez por mês, o espaço recebe a festa da Tchianda “Reunião Familiar”, um conceito que explora a sonoridade da cultura tchokwe, reunindo naturais e amigos para recordar momentos e envolverem -se no contagiante ritmo do leste. Mensalmente também é homenageada uma figura incontornável da música angolana, com uma agenda que vai desde tertúlias sobre a figura, atribuição de menção honrosa à família e encerra com um concerto. O primeiro foi Teta Lando. Segue-se Massano Júnior como próximo homenageado.






Texto: Pihia Rodrigues
