O artista plástico Mbuta Bayisese, natural de Luanda, mas com fortes ligações ao Cunene, tem-se afirmado como uma voz relevante na cena artística nacional, assumindo a missão de valorizar a cultura e fortalecer comunidades através das artes. O criador e dinamizador cultural participou em Luanda, a convite do Resiliart Angola, numa residência artística no âmbito do projeto da União Europeia de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN).

Segundo ao Jornal de Angola, durante a sua participação, Bayisese apresentou a obra “Caminho Floresta”, uma composição feita com materiais não convencionais, como papel higiénico, linhas e tinta acrílica. A proposta estética, que articula elementos da natureza com resíduos urbanos, levanta uma reflexão crítica sobre a relação entre o ser humano e o meio ambiente, traduzindo-se numa paisagem simbólica de tensão, ambiguidade e denúncia. Nas suas palavras, trata-se de uma “reflexão profunda sobre o percurso no meio da natureza e os vestígios que deixamos ao longo desse trajeto”.
O artista, responsável pela Galeria Provincial do Cunene, produziu ainda outras cinco obras, entre as quais destacou a técnica “La Testura Pitopale”, onde combina tintas, papel higiénico e linha sobre tela, reforçando o retrato como foco central da sua expressão criativa. Para Bayisese, as suas criações não são apenas estéticas, mas mensagens de amor ao próximo e apelos ao crescimento colectivo.
Com uma biografia marcada pela diversidade – filho de bakongo, cresceu em Kinshasa, estudou artes plásticas na África do Sul e escolheu viver no Cunene – Bayisese traz ao seu percurso artístico um olhar multicultural que enriquece a sua produção. O artista recorda que começou a desenhar personagens de cinema na adolescência e que a pintura de retratos surgiu ainda nos anos 90, antes de partir para a África do Sul como refugiado de guerra, onde residiu até 2011.
Hoje, radicado em Ondjiva, Bayisese continua a investir no desenvolvimento cultural da região, apelando ao Resiliart, à UNAP e ao programa FRESAN que mantenham o apoio a novos talentos com materiais, formação e espaços adequados para exposição e comercialização de obras. Reconhecido pela sua entrega e pela capacidade de unir tradição e inovação, o artista vê na arte um instrumento de consciencialização ambiental e social, capaz de despertar transformações reais.