Ernestina da Silva Diogo Matias, conhecida como Apóstola Tina, é uma figura incontornável do panorama evangélico angolano. Fundadora da Igreja Pentecostal de Fé e Libertação, lidera com fé, visão e amor, cruzando fronteiras e restaurando vidas. Nesta entrevista exclusiva à Revista Chocolate Lifestyle, partilha a sua jornada e o legado que deseja deixar às futuras gerações.

RC: Antes de se tornar serva de Deus, integrou o elenco da Fina Petróleos como a primeira mulher negra. Que memórias guarda dessa fase da sua vida?
EM: Guardo memórias de superação e coragem. Ser a primeira mulher negra naquele contexto foi um desafio. Enfrentei preconceitos e perseguições, mas também quebrei barreiras com profissionalismo e oração. Foi uma preparação intensa — Deus usou cada etapa para me forjar emocional e espiritualmente.
RC: O seu chamado para o ministério foi imediato ou nasceu de uma inquietação interior?
EM: Foi uma chamada divina clara. Em 1996, tive uma visão profunda baseada em Mateus 10:7-8. Já existia inquietação, mas naquele momento Deus confirmou o Seu propósito. Obedecer não foi fácil, mas trouxe paz e sentido à minha vida.
RC: Foi distinguida como uma das mulheres mais influentes de Angola. Como mantém a humildade diante desse reconhecimento?
EM: Recebo com gratidão, mas nunca me deixo levar. Toda a honra pertence ao Senhor. A humildade vem da consciência de que tudo é graça de Deus. Quero apenas ser canal de bênção.

RC: É casada há quase 50 anos. Qual o segredo dessa união duradoura?
EM: Deus sempre esteve no centro. Oração, respeito, perdão e compromisso diário. A fé sustentou-nos nas lutas e nas vitórias. O apoio do meu marido e dos meus filhos tem sido essencial nesta caminhada ministerial.
RC: O seu trabalho social é notório. Qual foi o momento mais transformador que já presenciou?
EM: Já vi crianças órfãs tornarem-se pastores e mulheres abusadas fundarem igrejas. Mas ver uma comunidade inteira converter-se num culto de rua marcou-me profundamente. O Espírito Santo desceu com poder naquele lugar.
RC: Lidera igrejas em Angola, Portugal e Brasil. Como lida com as diferenças culturais e espirituais?
RC: Aprendi a ouvir mais e a julgar menos. Cada cultura tem o seu ritmo espiritual. Angola é intensa, Portugal mais contido, o Brasil é expressivo. Mas o amor é o idioma universal. A diversidade enriquece o ministério.
RC: Esteve recentemente em Israel durante um momento de conflito. O que mais a impactou espiritualmente?
EM: Louvar no Monte das Oliveiras sob sirenes. A paz que senti foi inexplicável. Deus colocou no meu coração um peso de intercessão por Israel antes da guerra. As orações que fizemos continuam a ecoar. Foi um mover de Deus em meio ao caos.

RC: Num país com tantas carências sociais, qual é o papel da mulher líder espiritual?
EM: Vejo as mulheres como colunas do avivamento. Deus tem levantado mulheres com sabedoria e ousadia. Precisamos de abrir mais espaço. A mulher tem visão, dinamismo e capacidade para transformar a sociedade com amor e dedicação.
RC: Como equilibra a vida pública, os projectos sociais, o ministério e a vida familiar?
EM: Com oração e discernimento. O Espírito Santo é o meu gestor pessoal. Delego tarefas, confio na equipa e preparo líderes. Assim, conseguimos alcançar muito mais sem comprometer o essencial — a família e a missão.
RC: Que legado deseja deixar às próximas gerações de mulheres angolanas?
EM: Um legado de fé viva e activa. Que saibam que podem ser mães, líderes, empresárias e apóstolas sem perderem a essência. Quero que vão além de mim. Que lutem, não desistam e deixem marcas de luz por onde passarem.
Apóstola Tina é prova viva de que a fé, quando aliada à acção, transforma vidas e constrói futuros. Uma mulher que ousou obedecer ao chamado e, com isso, tem impactado os crentes.







Fotografias: Paixão Lemba
Arte: Miguel José
Espaço: Hotel Monalisa Residence