O café, outrora símbolo do orgulho agrícola de Angola, vive hoje um renascimento que vai além da produção: ele se transforma em experiência cultural e motor económico, conectando o campo ao coração das cidades.
Durante décadas, as plantações de café do Amboim, no Kwanza Sul, e do Uíge, estiveram entre as mais produtivas do continente africano. A região do Amboim, com o seu clima húmido e montanhoso, é especialmente conhecida pelo cultivo do café arábica, enquanto o Uíge mantém viva a tradição do robusta, com grãos de sabor intenso e encorpado.

Hoje, essas regiões voltam a ganhar protagonismo, impulsionadas por políticas de revitalização agrícola, cooperativas locais e o esforço de pequenos e médios produtores que apostam na qualidade como diferencial competitivo. Mas o verdadeiro “despertar” do café angolano vai além das lavouras.
Nas cidades, especialmente em Luanda, emerge um movimento urbano que redescobre o valor do grão nacional. Cafeterias modernas, como Kianda Café, Chá de Caxinde e outras iniciativas independentes, apostam na torrefacção local e na valorização da origem. O café já não é apenas uma bebida — é um ritual, um ponto de encontro, uma forma de contar histórias e celebrar a identidade angolana.
Esse movimento também traz impacto económico. A cadeia do café — da produção à chávena — gera emprego, estimula o turismo e atrai consumidores atentos à origem e sustentabilidade dos produtos. Além disso, o interesse internacional por cafés de origem africana coloca Angola novamente no mapa dos apreciadores globais.
No aroma de cada xícara servida numa cafeteria da cidade, sente-se o sopro das montanhas do Amboim e o calor fértil do Uíge. O café angolano está a acordar e com ele, toda uma identidade nacional reencontra o seu sabor.