O escritor angolano José Eduardo Agualusa figura entre os dez finalistas do Prémio Oceanos 2025, uma das mais prestigiadas distinções literárias da lusofonia, com o romance “Mestre dos Batuques”, revelou a organização na passada quinta-feira.
Editado pela portuguesa Quetzal e lançado em 2024, “Mestre dos Batuques” mergulha nas profundezas da história de Angola, tendo como epicentro o Reino do Bailundo.
Através de uma narrativa que combina realismo histórico e ficção poética, Agualusa propõe uma leitura alternativa dos acontecimentos que moldaram o Planalto Central, destacando a resistência e a identidade dos reinos do Bailundo, Bié e Huambo.
Em declarações à Imprensa, o autor explicou que a obra “é, em grande medida, sobre o Reino do Bailundo, que foi um dos últimos a render-se ao poder colonial”. O escritor desafia as versões oficiais da historiografia, defendendo que a colonização portuguesa em Angola durou apenas sete décadas, e não cinco séculos, como é habitualmente mencionado.

A narrativa é conduzida por Leila Pinto, uma narradora situada num futuro próximo, que revisita as memórias dos avós, Jan e Lucrécia, para reconstruir uma história marcada por amor, música e guerra. Com este enredo, Agualusa entrelaça passado e presente, questionando o impacto da colonização, as identidades culturais e as heranças africanas que moldaram o país.
Na categoria de Prosa, Agualusa concorre ao lado de nomes de peso como Mia Couto (“A Cegueira do Rio”), Rui Cardoso Martins (“As Melhoras da Morte”), Silvana Tavano (“Ressuscitar Mamutes”) e Teresa Veiga (“Vermelho Delicado”). Já na categoria de Poesia, figuram entre os finalistas autores como Francisco Guita Jr., Maria do Carmo Ferreira, Ricardo Gil Soeiro, Ana Maria Vasconcelos e Fabiano Calixto.

Os vencedores do Prémio Oceanos serão anunciados a 10 de dezembro, após uma avaliação criteriosa de um júri internacional composto por escritores, editores e críticos literários. Entre eles destacam-se o moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, o brasileiro Bernardo Ajzemberg e a portuguesa Sara Figueiredo Costa, na categoria de prosa, bem como a poetisa angolana Ana Paula Tavares, na categoria de poesia.
A edição deste ano registou um recorde de 3.142 obras inscritas, provenientes dos sete países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) — o maior número desde a criação do prémio em 2003. Destas, 50 foram selecionadas para a semifinal, entre as quais se destacou também o angolano João Melo, com a obra “Os Sonhos Nunca São Velhos”, na categoria de poesia.
Com “Mestre dos Batuques”, José Eduardo Agualusa reafirma o seu estatuto como um dos mais brilhantes cronistas da alma angolana — um contador de histórias que transforma a memória e a música em pontes vivas entre o passado e o futuro de Angola.



