O renomado modelo angolano Rui Huíla, rosto internacional que já desfilou para casas de luxo como Hermès, Louis Vuitton, Diesel, Loewe e Boss, volta a brilhar — desta vez, em solo nacional. Reconhecido pela sua postura impecável e profissionalismo de excelência, Rui regressa a Angola para partilhar a sua experiência com os novos talentos e reforçar a importância de uma moda angolana mais competitiva, disciplinada e ambiciosa. Numa conversa exclusiva com a Revista Chocolate Lifestyle, o modelo desabafa e reafirma a força das suas raízes.

RC: O que mais o motivou a regressar a Angola neste momento para partilhar a sua experiência com os talentos locais da moda?
RH: O que mais me motivou foi a vontade de partilhar com o pessoal do meu país aquilo que aprendi lá fora. Sinto que já tenho experiência suficiente no mercado internacional para poder regressar e contribuir de forma real para o crescimento dos novos talentos.
RC: Como descreve a evolução da indústria da moda angolana desde que iniciou a sua carreira?
RH: A evolução tem sido significativa. Nos modelos sinto que ainda há muito que melhorar; nos estilistas e outras equipas do ramo vejo um desenvolvimento positivo, pois o mercado era muito mais pequeno, com menos oportunidades e visibilidade. Hoje vejo uma indústria mais estruturada, com designers mais ousados e eventos mais organizados.
RC: Tendo desfilado para marcas como Hermès e Louis Vuitton, que aprendizagens considera fundamentais para transmitir aos modelos angolanos?
RH: Confiança, disciplina, profissionalismo e humildade. O mercado internacional é extremamente exigente: cada detalhe conta, desde a postura ao comportamento nos bastidores. Aprendi que talento abre portas, mas é a atitude que te mantém lá dentro.
RC: Entre as suas campanhas internacionais, qual foi a mais desafiante e por quê?

RH: A campanha mais desafiante foi a da Louis Vuitton. O conceito era muito casual e exigia muito profissionalismo e postura do modelo dentro daquelas vestes. Foi algo intenso, mas transformador.
RC: A presença em campanhas para marcas como Diesel, Loewe e Boss colocou-o sob grande visibilidade. Como lida com a pressão de manter um nível tão elevado de performance?
RH: Lido lembrando-me que a pressão é um privilégio. Significa que as pessoas acreditam no meu trabalho. Tento focar-me sempre na preparação para obter um bom resultado. Quando estou bem comigo mesmo, a performance flui naturalmente.
RC: Que diferenças nota entre trabalhar num mercado global e num mercado emergente como o angolano?
RH: O mercado global é mais rápido, competitivo e altamente profissionalizado. Cada minuto conta. Já o mercado angolano tem vindo a desenvolver. Aqui, muitas vezes, precisamos improvisar; o baixo custo nos serviços é o resultado da grande falta de profissionalismo.
RC: Como vê a representatividade dos modelos africanos nas grandes casas de moda atualmente?
RH: Tem melhorado muito e é visível. Hoje somos vistos, mas ainda precisamos ser ouvidos. A presença africana nas grandes marcas deve ir além da estética; deve incluir narrativas, diretores criativos e outras áreas. Estamos no caminho certo, mas ainda temos muito para conquistar.
RC: De que forma pretende contribuir — na prática — para impulsionar a indústria da moda nacional durante esta passagem pelo país?
RH: Além de workshops e mentorias, quero criar ligações entre talentos locais e agências internacionais. Pretendo também apoiar iniciativas que promovam a formação técnica, porque a profissionalização é essencial para a indústria evoluir de forma sustentada.

RC: Costuma preparar-se de forma específica antes de um grande desfile ou campanha? Que rituais ou cuidados não dispensa?
RH: Sim. Treino físico leve, hidratação constante e descanso profundo — dormir bem é indispensável. No dia do trabalho gosto de ter um momento de silêncio para me centrar, respirar fundo e entrar no “modo trabalho”. Energia calma e vontade fazem toda a diferença.
RC: O sucesso internacional trouxe-lhe novas responsabilidades. Como equilibra a vida pessoal com a intensidade da carreira?
RH: Não é fácil, mas aprendi a proteger os meus momentos de descanso e a valorizar as relações importantes. A carreira pode ser absorvente, mas a família e o equilíbrio emocional são o que me mantém inteiro.
RC: Há algum projeto pessoal ou profissional que esteja a desenvolver e possa revelar?
RH: Estou a trabalhar num projeto de formação contínua para jovens modelos angolanos, que inclui masterclasses, desenvolvimento de portefólio e preparação para castings internacionais. Além disso, tenho projetos de criação de marca de perfume e linha de roupa onde irei unir modelos nacionais e internacionais.
RC: Quando olha para o percurso feito até agora, qual considera ter sido o ponto de viragem na sua carreira?
RH: O momento em que fiz o meu primeiro grande desfile internacional. A partir dali percebi que podia competir ao mais alto nível.
RC: Que conselho deixa aos jovens modelos angolanos que sonham pisar grandes passarelas internacionais?
RH: Acreditem em vocês, trabalhem o dobro e nunca deixem que o medo dite os vossos passos. Preparem-se bem, procurem formação, mantenham a humildade e nunca se deixem influenciar de forma que prejudique o processo. O mercado internacional é exigente, mas não é inalcançável — eu sou prova disso.
RC: A moda mudou muito nos últimos anos. O que acredita que será essencial para os modelos se manterem relevantes nos próximos tempos?
RH: Versatilidade e autenticidade. Hoje não basta ter um rosto bonito, é preciso ter presença, personalidade, capacidade de comunicar e networking contínuo.
RC: Finalmente, o que representa para si voltar ao seu país e ser recebido como uma referência para a nova geração?
RH: Representa tudo. É a maior honra que posso ter. Voltar e sentir o carinho de muitos, isso é mais especial do que qualquer passarela. É a prova de que, mesmo quando o mundo nos chama, as nossas raízes continuam a ser o nosso berço.
O retorno de Rui Huíla a Angola não é apenas simbólico — é transformador. Entre histórias, aprendizagens e uma visão profundamente humana da moda, o modelo reafirma que sucesso e identidade caminham lado a lado. E se há algo que o seu percurso prova, é que as raízes nunca deixam de ser casa, mesmo para quem conquista o mundo.

