Em plena comemoração dos 50 anos de independência o repositório, que conserva a história dos povos de Angola e da República, as estantes dos livros da Biblioteca da União dos Escritores Angolanos, reclamam séria intervenção e… reflexão.
Partes das tábuas a inflamarem, vão cedendo lugar a uma característica de esponja, sinalizando esgotamento na resistência à gotas de água. Talvez não seja o caso, talvez as cinco décadas tenham ultrapassado de longe o tempo de vida útil da mobília.

As estantes tinham sido compradas há 50 anos pelo fundador da UEA e seu mais fiel benfeitor, Dr. António Agostinho Neto, recordou o secretário-geral cessante da UEA, David Capelenguela, numa recente visita de responsáveis da Câmara de Comércio Angola-Brasil e do Clube Renascença. Dizem ser dos primeiros gastos feitos após a recepção do galardão do prémio Lotus, em 1970, um reconhecimento literário concedido pela Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos. O primeiro Presidente da República tinha sido laureado com este prémio, em reconhecimento ao seu trabalho literário e à sua luta pela independência de Angola. A conferência, um evento importante para a literatura e a política do mundo afro-asiático, visava promover a solidariedade e a cooperação entre os escritores desses continentes, combatendo o colonialismo e o imperialismo.
A literatura era vista como uma ferramenta poderosa para denunciar injustiças, dar voz aos que sofriam sob o jugo colonial e inspirar a luta pela liberdade. E o Prémio Lotus vinha coroar estes esforços, promovendo a literatura, valorizando obras que abordavam temas como a luta pela independência, a identidade cultural e a resistência contra a opressão.

Primeira instituição cultural do País debate-se com problemas financeiros há anos
Numa outra visita, já há alguns meses, numa manhã tropical, que já se ía despedindo, com o rei sol a estabelecer seus tentáculos de raio. O silêncio hospitaleiro que tomou conta da estrutura ía aumentando o tom nesse período, a sombra da mulemba, junto à porta que dá para o hall, já reclama presença humana, onde muitos ocupavam-na para tertúlias. Nessa altura estava apenas um contínuo que se arrefecia da ‘kunga’ do dia que apenas estava a meio. Saíu de dentro uma colega, que também trajava uma bata azul escura, foi deitar ao redor da mulemba um balde de água suja, resultante ou da limpeza do pó ou da louça.
Seguimos até a biblioteca. Esta reclamava de visitas, o grito era da poeira, que insiste em dar o ar da sua graça nos bancos e um pouco nos livros.
Neste outro dia da nossa visita coincidiu com a gravação televisiva com uma escritora. Era notória a apreensão dos produtores na procura de um pano que eliminasse a teimosa poeira da cadeira onde se sentaria a entrevistada da televisão.

“Não tem um pano aí!?”, Questionou boquiaberta a visitante VIP após um produtor e o assistente da escritora se revezarem no vai-e-vem sem sucesso à procura de um pano para limpar o pó.
A Biblioteca tem o tamanho de sala de estar de uma T3 da centralidade do Kilamba ou Sequele.
Ao meio de uma quinzena de prateleiras de quase um metro preenchida de livros, estão quatro mesas com cinco cadeiras cada.
A sala dá entrada a outra, onde estão dispostos 10 computadores e respectivas cadeiras para utentes e uma secretária com seu computador.
Ao meio uma mesa redonda com duas cadeiras, onde fomos convidados a nos confinar eu e a minha caixa de colecção de célebres escritores desde antes da independência até aos dias de hoje. Colecção da biblioteca da Literatura Angolana Pré-Independência, Edições Maianga.
Os computadores, que tinham sido fornecidos pelo então Ministério da Ciência e Tecnologia, também parecem estar há anos que não roncam. Denunciam os cabos que, amontoados, as pontas parecem na iminência de se beijarem, mas desconectados com as máquinas.
Texto: Pihia Rodrigues