O jovem enfermeiro Faustino Cassapa, recém-licenciado e especialista em HIV e terapêutica antirretrovírica, está a agitar o meio da saúde em Angola com o lançamento do seu livro provocador: “A Enfermagem que Não é Praticada em Angola”. Em entrevista à Revista Chocolate, ele fala sobre as falhas do sistema, os princípios esquecidos da profissão e o que realmente precisa mudar.
Aos olhos de muitos, a enfermagem é apenas o cuidar. Mas para Faustino Cassapa, é ciência, é técnica, é vocação, e acima de tudo, é responsabilidade social. Recém-licenciado e já com uma especialização em infecções por HIV e terapêutica antirretrovírica, Faustino decidiu ir além da prática e lançou um livro que já começa a gerar debates profundos no sector da saúde em Angola.

“Sempre reconheci que, para se ter um Enfermeiro na íntegra em Angola, não basta apenas um ensino médio ou superior”, afirma. “É necessário navegar mais e mais.”
A sua inquietação com o que observava nos estágios contrastava fortemente com o que aprendia nos livros e nas aulas. Foi esse choque entre teoria e prática que deu origem ao título direto e quase desafiador do seu livro: “A Enfermagem que Não é Praticada em Angola”.
“O que acho que falta aqui em Angola é mesmo a sistematização da enfermagem. Ensinar e aprender como a enfermagem é dirigida e guiada! Isso é o que está a ser negligenciado, e precisamos olhar com urgência para a sua implementação nacional.”
O livro não passou despercebido. Segundo Faustino, a recepção do público foi “maravilhosa”, gerando debates desde o dia do lançamento. Ele acredita que a obra tem o poder de despertar consciências, tanto dos profissionais que já actuam, como daqueles que ainda estão em formação.
“Quem leu vai levantar-se e dizer: “Eu sou! E quem infelizmente não ler, vai continuar na mesmice.”
Para o jovem profissional, a mudança deve começar por uma reavaliação profunda dos princípios que regem a profissão e das pessoas que estão à frente da formação.
“Gostaria que a enfermagem fosse entregue àqueles que, como eu, entendem os princípios base da profissão. A avaliação do pessoal da enfermagem é fraquíssima. Basta! Precisamos que a elite da enfermagem chame quem tem ideias e implemente mudanças — começando pela prevenção e pela melhoria do ensino.”
O livro “A Enfermagem que Não é Praticada em Angola” já está a marcar presença em debates académicos e profissionais. Um chamado urgente à reflexão, vindo de uma nova geração de enfermeiros que não quer apenas cuidar, mas transformar.

