Na última sexta-feira, Luanda recebeu um dos eventos culturais mais simbólicos do ano: a inauguração da exposição “As Camadas da Alma”, uma celebração artística que marca os 10 anos da plataforma Bantumen, e assinala pela primeira vez a realização do Mês da Identidade Africana (MIA) em território angolano. A mostra resulta de uma parceria entre a Bantumen e o The Creative Hub (CIPRO-Group Foundation), e propõe uma reflexão profunda sobre identidade, memória e emoção através da serigrafia e da fotografia.
A exposição reúne obras dos artistas angolanos Aladino Jasse, Careca e Vernon de Castro, e do moçambicano Edson Bernardo, que encontraram no projeto social PEACE, desenvolvido no Huambo, a inspiração para traduzir visualmente as “camadas” do ser humano. O resultado é uma experiência visual e sensorial que convida o público a mergulhar nas profundezas da alma africana — as suas cores, as suas dores, a sua resistência e beleza.

Para Edson Bernardo, médico de profissão e fotógrafo por paixão, esta é a sua primeira exposição em Angola, e representa “um portal para a reflexão sobre as camadas das almas das mulheres e das crianças” que conheceu durante a sua passagem pelo Huambo. A sua obra — composta por uma única fotografia dividida em quatro partes, cada uma simbolizando um nível de profundidade emocional — convida à introspeção e à empatia. “Cada tecido representa uma camada, desde a cor mais leve até a mais profunda. É a minha forma de traduzir o peso das memórias e das experiências”, explicou o artista.
Já o fotógrafo Fernão de Castro destacou o desafio de desconstruir o seu conhecimento técnico para mergulhar na dimensão emocional da serigrafia. “Percebi que a serigrafia não é apenas uma técnica. É uma linguagem emocional. Cada camada que se imprime é como revelar algo que está dentro de nós, algo que nem sempre conseguimos traduzir em palavras”, partilhou.

A cofundadora da Bantumen, Vanessa Sanches , reforçou a importância simbólica deste regresso a Angola. “A Bantumen nasceu aqui há dez anos como revista digital, mas hoje é uma plataforma cultural que promove a identidade e a memória africana. Voltar a Luanda para celebrar esta década de existência é regressar às raízes”, afirmou. A exposição, segundo Sanches, é também o ponto de partida para novas rotas culturais que pretendem aproximar as comunidades lusófonas através da arte e da reflexão sobre o legado africano.
Durante o evento, o representante da indústria têxtil angolana, Santos, destacou o papel da Testang, fábrica localizada em Luanda, na valorização do tecido como suporte artístico. “É impressionante o crescimento da procura de telas para pintura. As nossas fábricas estão a tornar-se aliadas naturais dos artistas e da cultura nacional”, sublinhou.
Entre reflexões, memórias e arte, “As Camadas da Alma” não é apenas uma exposição — é um manifesto sobre o poder da criação africana e a urgência de preservar a identidade através da expressão artística. Em cada obra, em cada traço e textura, ecoa o mesmo convite: olhar para dentro e reconhecer, nas diferentes tonalidades da alma, a verdadeira essência de ser africano.









