Com inauguração marcada para esta quinta-feira, 23, no Palácio de Ferro em Luanda, a exposição colectiva “Tecer Mundos” promete ser um ponto de encontro entre tradição, contemporaneidade e conhecimento. As artistas Ana Sanches e Belmira Seco — com a ausência de Marisa Cristino, igualmente autora da mostra — conversaram, ontem, 21 de outubro, com os jornalistas sobre a essência do projeto, que estará patente até 15 de janeiro de 2026.
“As nossas mãos são as nossas máquinas”, afirmou uma das autoras, sintetizando a filosofia que sustenta a exposição: um olhar sobre o valor do trabalho manual e a necessidade de recuperar técnicas ancestrais como o macramé, o croché e a tecelagem, que durante décadas foram injustamente consideradas secundárias ou “trabalhos domésticos”.

A iniciativa nasceu, segundo as artistas, do desejo de dar visibilidade a uma área pouco explorada nas artes visuais angolanas, mas repleta de simbolismo e história. “Sentimos a necessidade de falar sobre estas práticas e de mostrar que não são somente manuais — são saberes, são património”, explicou Belmira Seco, sublinhando a importância de romper com a visão imperialista da arte e reivindicar o valor das expressões culturais locais como património imaterial.
A mostra vai além da exposição de obras. Inclui oficinas práticas semanais, que decorrerão todos os sábados do mês de novembro, a partir de 25 de outubro, abertas ao público e destinadas a diferentes faixas etárias. As sessões terão temáticas variadas — selagem, macramé e croché — e pretendem inspirar novas gerações a aprender e criar, promovendo uma relação direta entre o público e o processo artístico.
Para Ana Sanches, artista e curadora da mostra, o objetivo é também educativo: “O artista precisa de se expor, mas também de ensinar. Queremos que as pessoas aprendam, experimentem e percebam que o trabalho manual é, acima de tudo, um ato de criação e de identidade.”
A exposição Tecer Mundos surge, assim, como um manifesto pela valorização da arte técnica e do património imaterial, colocando o foco nas mãos — instrumentos de memória, resistência e transformação. Cada fio, nó e ponto é uma narrativa que liga passado e presente, convidando o público a rever o significado do fazer artístico e a reconhecer, nas texturas e tramas, a alma criativa de Angola.


