A província de Cabinda enfrenta um cenário preocupante no que diz respeito à produção e publicação literária, devido à inexistência de uma editora local e à falta de incentivos para jovens escritores. Segundo informações publicadas pelo Jornal de Angola, esta realidade coloca a província entre as regiões do país com menor registo de obras literárias.
Paixão Banganga, autor do livro “Sem Título”, afirma haver um desinteresse por parte dos empresários e de outras entidades locais em apoiar a produção literária, por se tratar de um sector considerado pouco lucrativo. O escritor sublinha que, apesar de existirem muitos jovens inclinados à escrita — desde contos, romance, poesia, crónica e até trabalhos científicos —, a ausência de meios financeiros e de editoras leva-os à frustração e ao abandono dos seus projetos.

“Uma província dessa tão grande, com mais de quatro universidades, cerca de um milhão de habitantes, não ter, pelo menos, uma editora, é complicado”, lamentou Banganga, acrescentando que raramente são realizados eventos literários em Cabinda, como lançamentos, feiras do livro ou sessões de autógrafos.
José Vaba, mais conhecido como “Poeta Sem Caneta” e coordenador provincial do Movimento Lev’Arte, revelou que a organização viu o número de membros cair drasticamente, passando de 60 para apenas 12 associados entre 2015 e 2025. Para ele, o desinteresse pela literatura resulta da busca generalizada por atividades mais lucrativas e da falta de ações concretas por parte da Secretaria Provincial da Cultura.
A situação não é exclusiva da literatura. Segundo Vaba, a arte em geral — incluindo teatro, música, dança e artes plásticas — enfrenta igualmente grandes dificuldades, devido à ausência de atividades culturais regulares e consistentes na província.
Adão Mamata, escritor cabindense que publicou em 2024 a sua primeira obra “Ânsia da Vida”, do género lírico, contou que o livro levou 12 anos a chegar ao público, devido à falta de patrocínios. O seu caso exemplifica os obstáculos que os autores locais enfrentam para transformar ideias e manuscritos em obras concretas.
A realidade apresentada por estes escritores deixa clara a necessidade urgente de investimento e incentivo ao sector literário em Cabinda. A criação de editoras locais, o apoio de empresários e a realização de eventos culturais regulares poderão ser passos decisivos para revitalizar a arte e a cultura na província.
Texto: Gracieth Issenguele