A cultura angolana tem encontrado novas raízes e projeção na diáspora, e um dos nomes que mais tem contribuído para esta presença além-fronteiras é o de Isidro Sanene, artista multifacetado natural de Benguela, que vive no Brasil desde 2011.
Segundo o Jornal de Angola, Sanene, de 38 anos, é artista plástico, ator, produtor cultural, escritor com nove livros publicados e docente na Universidade Federal do Brasil. Formado em Letras (português e espanhol), Economia Criativa e Artes Visuais, tem participado em exposições e produções teatrais, como a peça Barulho D’água, e no cinema com o filme Meu Kota.

A sua chegada ao Brasil foi um desafio extremo: “Apenas 30 dólares no bolso e a roupa do corpo”, recorda. Após uma breve passagem pela Argentina, regressou ao Brasil, país que lhe permitiu mergulhar mais profundamente na sua própria cultura e reforçar o orgulho das suas raízes africanas.
Criador do Centro Cultural Casa de Angola em São Paulo, Sanene tem sido responsável por projetos de grande impacto, como a histórica visita do Rei Ekuikui IV Tchongolola Tchongonga ao Brasil, em 2023. Também fundou o Coletivo Raízes, com o objetivo de dar visibilidade a imigrantes africanos e combater estereótipos sobre Angola e o continente africano.
O artista destaca que, no Brasil, percebeu que “nós conhecemos o Brasil, mas o Brasil não nos conhece” que têm muitos ainda uma visão distorcida sobre Angola, como se o país tivesse parado no tempo. Este desconhecimento motivou-o a usar a arte e as manifestações culturais para corrigir perceções e criar pontes de diálogo.
Sanene é ainda um dos criadores do Museu da Oralidade Angolana, um espaço dedicado à preservação da memória e das narrativas orais do povo angolano. Paralelamente, tem promovido intercâmbios culturais, levando já mais de 90 brasileiros, em especial afro-brasileiros, a visitar Angola para “reconectar e traçar o caminho de volta para casa”.
Com parcerias sólidas em centros culturais e a lecionar no ensino superior, Isidro Sanene afirma-se como um verdadeiro embaixador da cultura angolana no Brasil, vivendo da arte e mantendo o olhar firme nas suas raízes: “A cultura hoje é economia”.
Texto: Gracieth Issenguele