Na era dos textos curtos e das reflexões instantâneas, um nome tem se destacado pelas redes sociais: José Carlos de Almeida. Com títulos inusitados como “Orgasmo Fingido”, “Tipo de Estado das Cuecas”, e “O Café“, o autor tem encantado e provocado leitores com uma escrita que oscila entre o cômico, o crítico e o desconcertantemente íntimo.

Um dos trechos que viralizou recentemente é um exemplo claro do seu estilo direto e sem pudores:
“As adolescentes e mulheres devem levar as suas melhores cuecas, sempre que forem a uma consulta de ginecologia. Devem levar as cuecas mais decentes. Do mesmo modo, quando forem passar férias em casa de uma família ou amiga devem pôr na bagagem as melhores cuecas, ou seja, que garantem melhor decência e as que estejam em melhor estado de conservação.”
Mais do que uma fala sobre peças íntimas, o texto é um retrato das pequenas hipocrisias sociais, das convenções silenciosas e da forma como a sociedade julga até nas roupas escondidas. O autor navega com maestria por temas que todos vivem, mas poucos comentam abertamente. A sua escrita lembra que há poesia e crítica nos detalhes mais triviais.
José Carlos de Almeida não está apenas escrevendo crónicas; está reeducando o olhar. Convida o leitor a rir de si mesmo, a refletir sobre os próprios gestos automáticos e, acima de tudo, a não se levar tão a sério.
Em tempos de discursos inflamados e polarizações, talvez seja justamente esse olhar simples, provocador e cotidiano que esteja faltando e que ele entrega, cueca por cueca, café por café.
Texto: Michela Silva