A Exposição Individual do artista Ricardo Kapuka, com o título “Transeuntes”, será aberta na quinta-feira, 4, a partir das 18:00, no Espaço Luanda Arte – ELA, junto ao Chamavo. A mostra espelha a pesquisa e a criação do Artista de Benguela durante os últimos seis meses.
A exposição é um mergulho maduro e visceral na condição do ´ser´ em trânsito. Reúne 7 telas inéditas e 7 obras novas em papel de algodão, criadas durante um retiro artístico, que consolidam a sua investigação mais recente: a do indivíduo que se desloca, que se procura, que observa e é observado, que se refaz enquanto avança.

Segundo o autor, em uma nota enviada à Revista Chocolate, “Eternos viajantes, sobre as areias movediças da realidade, por um paraíso estranhamente perdido, mas achado no encanto da pertença ancestral que corre nas veias e na alma. Por entre olhares de tantos outros transeuntes, contempla-se a vida que passa sem pedir licença. Apenas ao futuro é possível chegar, em passos firmes, convictos e optimistas”.
O produtor da exposição, Dominick A Maia Tanner, refere: “há artistas que observam a vida e há outros que atravessam-na. Ricardo Kapuka – filho da Catumbela, da luz quente de Benguela e do sopro salgado do litoral – pertence a esta segunda linhagem: a dos que caminham dentro do tempo, tocando-o, friccionando-o, moldando-o ao ritmo da sua própria inquietação”.

Com o estilo que já habituou e tornou-se imagem de marca, as telas apresentam figuras do cotidiano e do vernacular nacional, por vezes silenciosas, por vezes quase em fuga, mas sempre investidas de uma energia interior. O gesto pictórico de Kapuka tornou-se mais seguro, mais musical, mais atento aos intervalos entre o visível e o sugerido. A cor, antes exuberante, agora ganha profundidade: ocres que lembram as dunas, azuis que evocam a Catumbela, sombras que transportam a memória dos caminhos do Sul.
As obras sobre papel algodão – delicadas, meticulosas, quase sussurradas – funcionam como um contraponto poético às telas. São pequenas geografias emocionais, como cartas enviadas entre tempos diferentes. Nestes trabalhos, Kapuka convoca uma espiritualidade subtil: uma espécie de rumor ancestral que ecoa a frase de Agostinho Neto, “em cada homem se ergue um pedaço de terra”. Aqui, é essa terra interior que vemos nascer, rachar, abrir-se, revelar-se.
Kapuka oferece-nos um futuro possível: um futuro onde cada pessoa – cidadão, viajante, transeunte – traz consigo um pequeno farol. A sua obra lembra-nos que o caminho não é destino, mas sim revelação; que o movimento não é fuga, mas sim forma de existir. Como alguém que caminha sobre areias movediças, o artista não afunda. Ele dança. E ao dançar, expande o território da pintura angolana contemporânea, afirmando uma voz profundamente pessoal, mas sempre enraizada na colectividade que o formou.
Depois desta inauguração, a exposição poderá ser visitada de terça a domingo das 12h às 20h, ou via marcação, e até 1 de Março de 2026.





