A UNESCO apresentou, em outubro, três novos volumes – IX, X e XI – da monumental História Geral da África (HGA), reforçando um dos projetos científicos e culturais mais ambiciosos do século XX. Estas novas edições mergulham na história moderna africana, atravessando temas como o tráfico de escravos, o Renascimento do Harlem, a negritude e a força criativa dos povos africanos, cuja influência continua hoje a ressoar em várias partes do mundo.

Criado em 1964, o projeto da HGA nasceu da vontade dos países africanos recém-independentes de reconstruírem a sua própria narrativa histórica, livre dos estereótipos raciais impostos pela escravidão e pelo colonialismo. Esta iniciativa assumiu-se como um compromisso científico, político e ético, centrado na valorização das vozes, das memórias e das perspetivas africanas.
A primeira edição completa da HGA, lançada em 2010 em oito volumes, constituiu uma verdadeira revolução epistemológica, ao integrar a tradição oral como fonte académica legítima. A obra contou com a colaboração de cerca de 350 especialistas de várias áreas do saber — da história à linguística, da arqueologia à antropologia — e foi publicada originalmente em inglês, francês e árabe, com traduções para dez outras línguas, incluindo fulani, hausa e kiswahili.

A pedido da União Africana, o projeto foi revitalizado em 2009, visando incluir a história das diásporas africanas e analisar os desafios contemporâneos do continente. Angola teve um papel relevante nesse processo, ao acolher, em fevereiro de 2016, a reunião do Comité Científico Internacional responsável pelo Volume IX, o primeiro encontro realizado em solo africano e determinante para o avanço da redação.
O Volume IX, dedicado à “História Geral da África revisitada”, atualiza teorias sobre as origens da humanidade e as primeiras civilizações. O Volume X aprofunda “A África e as suas diásporas no mundo”, analisando a África Global e os seus múltiplos fluxos culturais. Já o Volume XI, sob o título “A África Global hoje”, examina os desafios, oportunidades e transformações vividas pelo continente e pelas suas diásporas na atualidade.
Entre os grandes intelectuais envolvidos no projecto destacam-se nomes como Ahmadou Mahtar Mbow, Cheikh Anta Diop, Djibril Tamsir Niane, Théophile Obenga, Ali Mazrui, Gamal Mokhtar e Jan Vansina. Angola está representada por dois contributos únicos: Luís Kandjimbo, que participa no Volume IX com o ensaio “Denominations and Disciplinary Status of African Literatures”, e Mário Pinto de Andrade, que anteriormente colaborou no Volume VIII com o capítulo dedicado ao desenvolvimento da literatura moderna.
Publicada agora em treze línguas, a História Geral da África reafirma-se como uma obra indispensável para compreender não apenas o passado africano, mas também a sua presença global e o papel decisivo que continua a desempenhar no pensamento, cultura e identidade contemporâneos.