Há muito que Solange Knowles deixou de ser apenas a ‘’irmã da Beyoncé’’. Com um estilo inconfundível, Solange tem vindo a consolidar o seu lugar não só na moda, como style icon, mas também na música, tendo deixado todos boquiabertos com o seu terceiro álbum, A Seat At The table, que surpreendeu em todos os sentidos: músicas; vídeos; arranjos e figurino.
E este ano volta a surpreender e a superar-se, com o seu mais recente álbum, de seu nome When I Get Home (Saint Records/Columbia), que já está a dar que falar pelo seu estilo, que é uma mistura de Jazz; Soul; RnB e Hip Hop. Tal como no anterior, neste álbum o tema é a cultura negra, focando-se muito na sua terra natal, Houston, Texas, assim como no feminismo negro; na luta negra e na excelência negra.
Todo o álbum é uma obra-prima e tem uma genialidade ímpar, contando com nomes como John Key, John Carrol Kirby e Pharrell Williams, com os quais co-produziu e compôs alguns temas. Os arranjos são incomparáveis; as letras profundas e carregadas de mensagens; as melodias viciantes e contundentes. É uma viagem no tempo, que nos remete ao auge da música feita de e para negros, tempos em que a música servia de tónico, de panaceia para almas perseguidas e discriminadas e talvez por isso fossem tão marcantes.
Pensamos em Minnie Ripperton, em Stevie Wonder, em Erykah Badu, em Alice Coltrane, em Sun Ra, entre tantos outros.
Solange é mais do que in, é inspiração, é cultura. Toda ela é expressão artística, mesmo quando não canta.
Desde os penteados, até às roupas, à maneira como fala e se comporta: respira arte, pois tudo nela transmite uma mensagem, uma expressão, um sentimento.
E mais do que isso, a mais nova das Knowles é um símbolo representativo do feminismo negro, sem ser agressiva, ou exagerada, ou desmedida. Ao contrário, Solange consegue subtil mas vincadamente passar-nos história, política e cultura negras com um simples vestido, ou vídeo, ou publicação nas redes sociais, porque tudo nela é um statement.
Irreverente, não esconde jamais o que pensa ou o que sente, mas mesmo assim consegue ser um enigma a nível pessoal e muito discreta nesse sentido (exceptuando o famoso episódio do elevador). Quem segue a sua página sente essa mística e poder pois apesar de nunca colocar captions, as fotos dizem tudo.
Numa carta escrita pela própria, destinada ao seu eu mais jovem, publicada na revista Vogue, Solange diz, entre outras coisas:
“… Jovens chamar-te-ão nomes e adultos chamar-te-ão nomes. Tudo bem. Um dia escolherás o teu nome e esse nome pertencer-te-á. Não serão os nomes que eles decretaram: ‘louco, feio, que procura atenção, esquisito’. Eu odeio mesmo dizer isto, mas às vezes, em adulto, ainda vais ouvir esses nomes, porém vais adoptar alguns. Vais aprender que são apenas palavras. Palavras que só têm poder se tu escolheres dar-lhes poder. De vez em quando elas vão doer, mas vais escolher transformar essas palavras num símbolo de beleza ”.
Uma carta verdadeiramente inspiradora, carregada de dor, introspecção, mas acima de tudo, motivação. Carta essa que só confirma aquilo que já era claro: que Solange Piaget Knowles não está na moda nem é mainstream, mas sim ficará nos anais da história como uma artista afro-americana que focou as suas artes (moda e música) na sua cultura negra e denunciou as injustiças contra ela, contando a história dessa mesma cultura, enaltecendo-a e fomentando-a. Solange não é um ícone de estilo, ou de moda. Por tudo o que faz, é e representa: é um ícone em toda a sua plenitude.