BUMP, SET, SPIKE!
Uma conversa com cheiro a maresia, sabor a sal e regada com muito sol, protagonizada por uma atleta que, dada a sua excelência e carreira, dispensa apresentações.
Geicy Ribeiro, a nossa veterana de vóleibol do Petro, sentou-se connosco à beira-mar, onde a intensa luz evidenciava cada músculo do seu extremamente tonificado corpo, com as ondas e um jogo de vólei dos seus colegas como banda sonora, numa conversa cândida, que poderá mesmo ser a sua última enquanto jogadora do clube, visto este ser o seu último ano a desempenhar essa função, ‘’já dei o meu contributo, fiz muito pelo clube. Agora também já tenho outros planos, penso em ter filhos…’’.
Uma decisão bastante justa, tendo em conta que neste momento é a mais velha do clube, a única veterana remanescente, representativa de outros tempos, tempos diferentes e até talvez melhores, que ela recorda com bastante nostalgia, ‘’antes os campos enchiam bastante, hoje já não há tanta afluência, antes era bom jogar, ver a multidão… isso dá ânimo, motiva! Hoje já não há isso, o número de equipas reduziu bastante, não dá para fazer campeonatos com duas equipas, não faz sentido’’.
Um facto que para Geicy Ribeiro é extremamente triste, pois o voleibol para ela é uma verdadeira paixão, paixão essa descoberta há quase duas décadas.
O vólei surgiu naturalmente, ‘’cresci no seio de uma família desportista, os meus pais foram jogadores de basquete, então sempre tive esse conceito em casa. Tentei basquete e não gostei, depois futebol, depois andebol … também não gostei!’’, diz, ‘’fui tentando até identificar-me com algum desporto (…) o vólei descobri com 12 anos, comecei a fazer na escola, em Educação Física e vi que era a modalidade da qual eu gostava, comecei a procurar clubes, mas na altura ainda não havia’’.
Até que, já no IMIL (Instituto Médio Industrial de Luanda), ‘’uma jogadora já mais velha propôs ao Petro abrir a modalidade, aceitaram e ela levou o grupo todo do IMIL para o clube. Depois começaram a surgir outros clubes e os colégios e Universidades também’’, and the rest is history!
Mas nos últimos anos a atleta não tem sido uma referência apenas no vólei. Geicy descobriu um outro amor, um estilo de vida mais saudável, através da musculação e dieta regrada. ‘’Foi há 6 anos. Eu jogava mas não tinha uma alimentação saudável, era capaz de sair dos treinos e comer hambúrguer ou beber refrigerantes. O meu namorado era Personal Trainer e já tinha este conceito, então começou a insistir para eu mudar de estilo de vida. Comecei a ir ao ginásio, a cuidar da minha alimentaçao, a fazer musculação e vi que era um bom caminho a seguir, então comecei a conciliar isso com o vólei’’.
Mudança essa que impactou a sua vida em todos os sentidos, ‘’estou com melhor disposição, mais energia e o meu físico mudou muito! Não sei o que é ficar doente desde então. Também tinha uma lesão no ombro e deixei de a ter por causa da musculação’’.
É de um modo altruísta que ela vive esse novo estilo de vida, partilhando quase diariamente aquilo que sabe e que vai aprendendo, com os seus milhares de seguidores, com o intuito não só de elucidar, mas também de incentivar, ‘’se eu posso, todos os jovens podem, não é fácil, mas é possível (…) resolvi passar o pouco que sei às pessoas, porque sei que nutricionistas ou PTs são caros, então contribuo deste modo’’.
E não é por acaso, Geicy partilha connosco as suas preocupações em relação à relação que a sociedade, em geral e os jovens, em particular, têm com o desporto, ‘’a juventude quer beber, noites… por isso vemos jovens hoje em dia com doenças que dantes só víamos em pessoas mais velhas: enfartes, AVCs, problemas de fígado e rins, etc. É o sedentarismo e o estilo de vida!’’, conclui, com pesar.
A sua análise crítica não se fica pela sociedade. No seu próprio clube, a veterana vê que os valores e a dedicação ao seu desporto de eleição estão a perder-se, o que a deixa não só profundamente triste, como também chateada. ‘’actualmente sou a mais velha no Petro e tenho uma vida bastante activa e nem sempre tenho tempo para fazer o treino técnico lá no clube. Não consigo treinar durante a semana com o grupo feminino, então tenho de treinar à noite, com os rapazes, 3 vezes por semana. Quando vou treinar com as meninas passo o tempo a ralhar porque é inadmissível, elas que treinam todos os dias, estarem menos em forma e terem menos técnica do que eu!!!! Fico nervosa, impaciente, não vejo a mesma entrega, a mesma garra e raça que há na equipa masculina’’, lamenta.
Hoje Geicy Ribeiro está pronta para arrumar a sua bola e o seu equipamento, na certeza de que deu tudo pelo seu clube e leva consigo a sua maior conquista: ‘’ser a melhor jogadora da época’’, que conseguiu em 2017 e que para ela tem um sabor ainda mais especial, visto ter conquistado esse título lesionada, após ter perdido grande parte da época devido à cirurgia, o que só mostra a garra e força desta mulher, que não deixa que nada a derrube ou impeça de atingir os seus objectivos.
Um verdadeiro exemplo a seguir e uma filosofia a adoptar, não só no desporto, mas na vida em geral.
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