O substantivo “estrela” há muito que deixou de ser apenas o significado do seu nome. Agora, Stela de Carvalho Magalhães, ou Blindada, como é mais conhecida, brilha também enquanto apresentadora e uma das caras mais conhecidas e queridas de Angola.
Foi com a sua energia característica, entre secadores e pincéis, que nos recebeu e nos deu a conhecer um pouco mais de si, da sua história e das suas aspirações enquanto mulher, mãe, esposa e profissional.
‘’Começar de baixo não é humilhação nenhuma’’. Foi esse pensamento e esse espírito que a trouxeram aqui, pois sempre foi e quis ser mais do que uma cara bonita. Trabalho, foco e fé, foram e são alicerces da sua vida, que lhe permitiram não desistir nos momentos mais difíceis.
Vem de origens humildes e nunca escondeu isso, trabalhou enquanto estudava para poder pagar os seus estudos; foi professora primária; foi lojista; tudo isto ao mesmo tempo que era mãe.
Mesmo assim e com todo o esforço, Stela conseguiu licenciar-se em Gestão Empresarial, que era o seu sonho.
Logo após a sua licenciatura surge uma nova gravidez (a dos gémeos), o que foi um embate na sua vida profissional, pois exigiu que estivesse parada, ainda que contra a sua vontade, pois ‘’ficar em casa não é o meu forte’’. Não obstante a gravidez, continuou a procurar emprego e quando finalmente conseguiu uma oportunidade, ‘’já estava grávida de sete meses’’, o que foi mais um obstáculo e a razão pela qual não conseguiu passar nessa entrevista.
‘’(…) senti que me tiraram o chão(…)’’ Eis que nascem os gémeos e Stela vê-se obrigada a ficar em casa todo o dia e todos os dias. Depois de dois anos nessa rotina, atinge o seu ponto de ebulição e retoma a busca por emprego (através de entrevistas, concursos públicos, contactos e afins). Mas a vida continuaria a testar a sua resistência, pois mesmo tendo sido aprovada no concurso público (com 17 valores), nunca chegou a ser chamada pois a crise havia chegado. ‘’Quando li o jornal senti que me tiraram o chão, o meu mundo caiu porque eu queria muito trabalhar e estava super feliz por ter passado’’.
Mas ‘’há males que vêm por bem’’ e foi esse mesmo percalço que colocou a Zap no seu caminho, através de uma amiga que já lá trabalhava e que a incentivou a entregar o seu currículo. E assim foi!
Desengane-se quem acha que a sua relação com uma figura pública teve qualquer influência pois Stela fez sempre questão de manter essa informação para si, para evitar quaisquer associações ou privilégios, ‘’eu quero é trabalhar e aprendi isso com a minha mãe e o meu pai, começar de baixo não é humilhação nenhuma’’. E foi assim conseguiu o seu primeiro emprego na Zap, como assistente de conteúdos. A sua chance para apresentar um programa surgiu na capacidade de assistente, pois muitas vezes fazia simulações nos ensaios, o que exigia alguma representação.
Por sorte ou azar, a apresentadora escolhida para o programa ‘’desistiu por razões pessoais e a produção já não tinha tempo para mais castings e como eu já era a cobaia deles, propuseram-me um teste’’.
E mesmo sem ter sido o seu objetivo, ficou com o emprego de apresentadora do programa MAIS CONSIGO, quase sem aviso prévio e com muito pouco tempo para digerir e preparar-se para esse novo papel. Deste modo, sem saber como, sem se ter preparado e sem ter pensado nisso, Stela realiza o seu grande sonho de trabalhar na TV.
‘’Toda a minha formação em televisão foi feita dentro do programa’’. Sem qualquer formação prévia na área, Stela, que ‘’não era uma pessoa viajada, não conhecia o mundo da fama, o meu mundo era o bairro onde eu vivia e a minha família’’, foi aprendendo com a experiência e também com o seu colega Hélio Taveira, que ‘’já era conhecido e tinha muito mais traquejo e conhecimento’’. O programa acabou por ser um sucesso de audiências.
‘’Futuramente não quero ser mais uma apresentadora, eu quero ser ‘’a’’ apresentadora Stela de Carvalho’’. Foi essa a resposta que deu numa das suas primeiras entrevistas, quando questionada acerca dos seus objetivos profissionais. Mas estava longe de saber que essa meta seria atingida mais rápido do que imaginava.
8 meses depois de começar o Mais Consigo, deu-se uma mudança no formato. Com essa mudança surgem os programas em directo (‘’até então todos os programas eram gravados’’), mais um desafio para a apresentadora, que mal acabara de se adaptar a essa pele, já teria de mudar de novo. Surgem os medos, inseguranças, pois ‘’o programa em directo é o topo, o cume, o limite para quem apresenta’’, mas nunca lhe passou pela cabeça recusar ou desistir. Não só aceitou o desafio, como o fez à sua maneira, ‘’eu não quero ser uma barbie, bonita, pintada, eu não quero ser marionete de ninguém, dizer o que querem que diga e fazer o que querem que faça’’.
E foi sendo ela própria, irreverente, espontânea, humana, que conquistou o coração do público e liderou as audiências com o programa Vivà Tarde, aplacando os receios de fraca adesão visto que ‘’o programa é a uma hora que não sabemos sequer como tem telespectadores, pois é hora de trabalho, de trânsito, mas o certo é que as pessoas assistem, como, ninguém sabe, mas assistem’’.
Por isso, ter sido a escolhida para apresentar o programa de grande formato, Unitel Estrelas ao Palco, foi quase que inevitável. Dessa experiência fica a emoção, a diversão e o companheirismo do seu co-apresentador, Adi Cudz.
Mas e a Stela na sua vida privada, quem é? ‘’A única diferença entre a Stela apresentadora e a Stela dona de casa é a maquilhagem e o cabelo’’.
Algumas curiosidades a seu respeito são que não gosta de batons; tem sempre a bíblia ao seu lado; não faz dietas nem exercício físico (não gosta); é dependente do telemóvel (‘’para estar sempre conectada à minha casa’’); só usa verniz branco (‘’porque simboliza paz e é a minha cor favorita’’).
A sua personalidade em casa é exactamente aquela que vemos na TV, só muda a aparência física, com muito menos maquilhagem porque ‘’sou muito mais natural, até porque tenho muitas mães que me seguem e têm de perceber que uma mulher apresentável é uma mulher preparada, confiante, bem vestida sem ter de ser com muitas marcas e têm de saber que é possível sermos naturalmente atraentes depois de sermos mães’’.
Além disso, quer deixar claro que ‘’o facto de estar sempre bem disposta e alegre na TV, não significa que não tenha problemas ou que esteja sempre bem física e psicologicamente, simplesmente não o deixo transparecer no meu trabalho’’.
‘’Mãe, esposa, dona de casa, trabalhadora’’. São estes os papéis que Stela conjuga diariamente e fá-lo de um modo exemplar, sem negligenciar nenhum deles. Acorda todos os dias às 5 e meia da manhã pois faz ‘’questão de preparar as crianças para a creche antes de ir trabalhar’’ e apesar do programa começar às 15 horas, o seu trabalho começa bem mais cedo pois também é ‘’produtora de conteúdos e repórter’’, portanto nas primeiras horas da manhã já está ‘’com a mão na massa’’.
Após o término do programa, o seu dia continua, pois para ela é fundamental ‘’chegar a casa, fazer o jantar, cuidar dos filhos e do marido’’.
Tendo em conta essa agenda, que tempo resta para si e para relaxar? Stela conta que adora ler e apesar de ter ‘’descoberto tarde a importância dos livros’’, quer incutir esse amor nos seus filhos, tendo mesmo criado uma espécie de ‘’clube de leitura’’ em casa.
É bastante caseira e focada na família, portanto é assim que relaxa e se sente bem, saindo muito raramente e em ocasiões específicas.
O peso de ser mulher faz-se sentir, sobretudo nas críticas, ‘’as mulheres são muito mais injustiçadas e criticadas do que os homens. E o mais interessante é que essas críticas e cobranças partem mais de mulheres do que de homens’’. Mas Stela não se deixa abalar e só considera as opiniões ‘’de quem sabe e faz Televisão há muito tempo, essas são as críticas que importam’’.
Com fãs e seguidores de todas as idades, Stela tem perfeita noção da responsabilidade associada à sua fama e o seu objetivo principal enquanto figura pública é de mostrar, principalmente às jovens mulheres, que ‘’é possível ser uma jovem, mãe solteira e estudar, ser trabalhadora, arranjar um bom homem sem se vender, conseguir ser mãe, dona de casa e ter um trabalho e ainda assim ser uma grande profissional. É sim possível, o problema é que agora falta paciência para esperar e encontrar um bom homem, são muito ‘’imediatistas’’ e querem a casa e o carro e fazem-se valer da beleza para tal’’.
A sua referência em quase tudo é Cristina Ferreira, ‘’pelas semelhanças não só na vida pessoal, como também profissional’’ e como tal, Stela diz que ‘’para mim a meta é a excelência e ainda estou longe de lá chegar’’.
Aos que a seguem e a têm como inspiração, ela diz alerta ‘’não queiram ser tal e qual a mim, porque cada um é como é, eu também tenho as minhas referências e no entanto não as sigo à risca. Sejam verdadeiros, não tentem inventar nem imitar outras pessoas. Sejam persistentes e acreditem que lá vão chegar. Pior do que ir e falhar é não ir e ficar sem saber aonde teriam chegado’’
Tudo indica que o melhor ainda está por vir e nós cá estaremos para acompanhar e apoiar essa ascensão meteórica.
Entrevista disponível na edição de Março.