No ritmo acelerado da vida contemporânea, geralmente dominado por ecrãs e pressa, o silêncio, esse espaço raramente explorado, surge como ferramenta vital para promover o equilíbrio emocional e a saúde mental. Em Angola, onde os desafios sociais e económicos pesam sobre muitos, aprender a ficar a sós e ouvir o próprio pensamento pode revelar-se um ato revolucionário de cuidado interior.

Silêncio como cura silenciosa
Embora o silêncio nem sempre seja valorizado, ele oferece um refúgio para a reflexão e a introspeção. Técnicas simples omo desligar o telemóvel durante alguns minutos, respirar conscientemente ou caminhar em silêncio têm o poder de reduzir o “stress”, melhorar a concentração e renovar o bem-estar emocional. Em circunstâncias de crise, este espaço interior pode ser o ponto de partida para recuperar clareza, força e propósito.

Um olhar angolano sobre a quietude
Em Angola, onde a saúde mental sofre com a falta de políticas públicas robustas e de recursos adequados, o silêncio torna-se ainda mais significativo. A psicóloga Ana Panzo, citada pela Voz da América, alerta para um cenário preocupante crescente desemprego, desestruturação familiar e dependência de jogos de azar têm um impacto direto na saúde psicológica dos angolanos. Nesse panorama, momentos de introspeção surgem como pequenos gestos de autoproteção.
Dados recentes do Ministério da Saúde revelam que, entre 2020 e o primeiro semestre de 2023, mais de 359 mil pessoas foram atendidas por perturbações mentais em Angola. A necessidade de apoio e de estratégias preventivas é claro Esse hiato nos cuidados formais reforça a importância de práticas acessíveis e pessoais de autocuidado, como o silêncio consciente.
Silêncio com suporte institucional
Felizmente, o país começa a mobilizar-se. Em 2024, o Ministério da Saúde lançou junto da OMS Angola e da Universidade Privada de Angola o evento “Chá de Ideias: Saúde Mental, um Direito de Todos”, que visou sensibilizar e mobilizar a sociedade em torno desta temática. Este tipo de iniciativas reconhece que, para enfrentar o estigma e fortalecer redes de apoio, é indispensável preservar tanto os meios formais quanto os simples, como a valorização do silêncio consciente.
Texto: Suzana André