As III Jornadas de Enfermagem “Saber Para Cuidar”, realizadas sob o tema “Liderança, Inovação e Sustentabilidade em Enfermagem”, proporcionaram um espaço de reflexão estratégica, partilha de experiências e “networking” entre lideranças de enfermagem e instituições do sector da saúde.
Num dos momentos mais marcantes do evento, destacou-se a intervenção da enfermeira Marta Assunção, coordenadora de formação e comissionamento, que apresentou uma nova visão sobre o papel do enfermeiro: aquele que intervém desde o projecto de uma unidade de saúde até à sua implementação.

Segundo Marta Assunção, o cuidar pode e deve começar já na fase de conceção das infraestruturas. “Quando virem um enfermeiro no meio das obras, não estranhem. Faz todo o sentido ao se tratar de uma unidade de saúde”, afirmou. A enfermeira defendeu que os profissionais de enfermagem devem ser envolvidos desde o planeamento, contribuindo com o seu conhecimento clínico e empático para desenhar estruturas ajustadas às reais necessidades de quem cuida e de quem é cuidado.
A sua equipa multidisciplinar trabalha com engenheiros civis, biomédicos, arquitetos e especialistas de TI para garantir que os espaços hospitalares sejam funcionais, seguros e centrados no utilizador. Desde a verificação de plantas e fluxos até à escolha de equipamentos e à formação das equipas, o enfermeiro assume um papel estratégico. “Não construímos estruturas inadaptadas. Trabalhamos para cada detalhe estar pensado para quem vai utilizá-lo na prática”, reforçou.

Para além da participação técnica, o trabalho dos enfermeiros estende-se à mediação entre fabricantes, fornecedores e utilizadores, assegurando que os sistemas tecnológicos integrados sejam compreendidos e operados com eficácia pelas equipas clínicas. “De que serve termos um sistema de chamada de enfermeiros inovador, se ninguém souber utilizá-lo?”, questiona Marta Assunção, sublinhando a importância da formação contínua para garantir segurança e eficiência.
Esta abordagem representa uma mudança de paradigma na enfermagem, ao colocar os enfermeiros como agentes activos na transformação das infraestruturas de saúde, rompendo com o estereótipo do profissional limitado à prestação de cuidados à cabeceira do doente. “Somos facilitadores do diálogo, orquestradores de soluções e trazemos inovação porque conhecemos de perto a realidade dos cuidados”, conclui.




Texto: Suzana André