Em entrevista exclusiva à Revista Chocolate Lifestyle, a cantora cabo-verdiana Jocelina Medina, conhecida no meio artístico como Josslyn, falou sobre a sua estreia no cinema, num género arrojado e pouco explorado no contexto africano: o terror. Após conquistar o público com a sua voz, a artista multifacetada mostra agora uma nova faceta, ao abraçar com coragem e disciplina o mundo da representação.

RC – É uma das vozes mais acarinhadas da música cabo-verdiana e, agora, vai estrear num género totalmente diferente: o terror. O que a atraiu neste desafio cinematográfico?
JM – É verdade que a música sempre foi o meu primeiro amor, mas a arte tem muitas formas de se expressar e o cinema é uma delas. Quando surgiu este convite para fazer parte de um projeto de terror, confesso que senti um frio na barriga, mas também uma enorme curiosidade. O que mais me atraiu foi a possibilidade de sair da minha zona de conforto, de explorar uma nova linguagem artística e mostrar outra faceta minha ao público. Gosto de desafios que me fazem crescer, e este papel exigiu-me muito emocionalmente e fisicamente. Foi uma experiência intensa, mas também profundamente gratificante.
RC – Como foi receber o convite para contracenar com o Sílvio Nascimento no primeiro filme de terror angolano? Foi uma decisão fácil ou hesitou?
JM – Receber o convite foi uma surpresa maravilhosa! Quando soube que ia contracenar com o Sílvio Nascimento, senti uma mistura de honra e responsabilidade. Ele é um ator talentoso, muito respeitado no universo cinematográfico dos PALOP, e ter a oportunidade de partilhar cenas com ele foi, sem dúvida, um privilégio. Claro que houve aquele momento de hesitação natural. Mas senti que era um passo importante para a minha evolução como artista. E o facto de ser o primeiro filme de terror angolano deu ainda mais peso à decisão. Sabia que fazia parte de algo histórico.
RC – Acabou de se formar numa das mais conceituadas escolas de representação do Reino Unido. Como é que essa formação a preparou para este papel e o que acha que traz de novo para o cinema lusófono?
JM – Formar-me no Reino Unido foi uma experiência transformadora. Aprendi a construir personagens com profundidade, a mergulhar nas emoções e a trabalhar com rigor. O terror exige muito a nível emocional, e essa preparação foi essencial. Acredito que trago uma nova perspetiva artística e quero aplicá-la no cinema lusófono. Quero contribuir para elevar a nossa narrativa e mostrar que temos talento para qualquer ecrã do mundo.

RC – A música continua a ser uma grande parte da sua vida. De que forma equilibra a carreira musical com esta nova paixão pela representação?
JM – A música é a minha essência. Mas a representação veio acrescentar uma nova forma de contar histórias. Não vejo essas áreas como separadas, mas como extensões da mesma paixão. Conciliar as duas exige organização e foco. Uma alimenta a outra — a sensibilidade da música enriquece a atriz e vice-versa.
RC – Acredita que a sua experiência como intérprete musical influenciou a forma de entrar nas personagens e comunicar emoções no ecrã?
JM – Sem dúvida. Na música, aprendi a sentir e transmitir verdade. Isso transportei para o cinema. Como cantora, aprendi a comunicar até no silêncio, e isso ajudou-me muito. A arte tem essa beleza: tudo se mistura e enriquece.
RC – O que pode revelar — sem spoilers — sobre o seu papel neste filme de terror?
JM – O meu papel é o de uma mulher misteriosa e sem pudor, que se envolve numa situação onde o real e o sobrenatural se confundem. É um enredo com elementos culturais nossos e um suspense psicológico forte. É um filme corajoso e com identidade própria.
RC – Quais foram os maiores desafios durante as filmagens?
JM – O terror exige entrega total. O desafio maior foi manter o equilíbrio emocional e físico. Algumas cenas exigiram muito do meu corpo e mente. Foi preciso aprender a proteger-me emocionalmente sem deixar de dar tudo em cena. Foi exigente, mas enriquecedor.
RC – É uma referência para muitos jovens artistas. Que conselhos daria a quem deseja cantar e representar com a mesma entrega?
JM – Entrega-te de verdade, estuda, sê persistente e acredita em ti. A arte exige coragem, humildade e resiliência. Cantar e representar pedem autenticidade. O importante é seres fiel à tua essência e cultura. Podes ser tudo o que quiseres, desde que estejas disposta a trabalhar com alma.
RC – Com um pé em Cabo Verde, outro em Angola e formação no Reino Unido, sente-se uma artista global?
JM – Sim, mas com raízes firmes. Essa mistura moldou-me e reflete-se na minha arte. Sou africana na alma, mas com linguagem global. A cultura tem esse poder de unir e tocar corações em qualquer parte do mundo.

RC – Podemos esperar mais cinema no seu futuro?
JM – Com certeza! Este foi apenas o começo. Tenho projetos tanto no cinema nacional como internacional. Quero continuar a crescer, a contar histórias, e mostrar que é possível viver entre a música e o cinema com autenticidade.
Josslyn representa uma nova geração de artistas africanos com voz global, capaz de navegar entre géneros e linguagens sem perder as suas raízes. Seja no microfone ou diante das câmaras, a artista prova que talento, disciplina e coragem podem transformar sonhos em realidades que inspiram em qualquer palco do mundo.



Texto: Gracieth Issenguele