Aos 21 anos, Hadiatou Paula Manuel Keita é o rosto por detrás da marca Had Kets, um projecto de moda modesta que procura unir elegância, identidade e propósito. Estudante de Contabilidade e Administração na Universidade Católica de Angola e com formação técnica em Gestão de Empresas, a jovem empreendedora alia a paixão pelo design ao compromisso de apoiar mulheres na construção de uma vida com mais autonomia e autoestima.

Em entrevista à Revista Chocolate Lifestyle, a criadora fala sobre os desafios, conquistas e visões que moldam a sua jornada.
RC: Como conseguiu traduzir a sua diversidade cultural na identidade da Had Kets?
HK: A Had Kets nasceu como reflexo da minha própria história. Cresci entre culturas diferentes e isso deu-me um olhar amplo sobre a moda. A diversidade cultural que carrego aparece nas cores, nos cortes e até na forma como penso cada colecção: é uma fusão entre tradição e modernidade, respeitando valores, mas também acompanhando as tendências actuais.
RC: Qual foi o maior desafio em criar uma marca de moda modesta num mercado ainda pouco explorado?
HK: O maior desafio foi a aceitação. Muitas pessoas ainda não compreendiam o conceito de moda modesta e achavam que não tinha espaço no mercado angolano. Foi preciso educar o público, mostrar que a moda modesta não é limitação, mas sim uma forma de se expressar com elegância, autenticidade e propósito.
RC: Em que momento percebeu haver uma lacuna no mercado e decidiu transformá-la numa oportunidade de negócio?
HK: Quando percebi que muitas mulheres, assim como eu, não encontravam roupas que unissem estilo, sofisticação e modéstia. Foi aí que enxerguei uma oportunidade: criar peças que atendessem a essa necessidade e, ao mesmo tempo, valorizassem a autoestima e a identidade da mulher.
RC: Como equilibra o papel de modelista, empreendedora e criadora de conteúdos digitais?
HK: O equilíbrio vem de organização e paixão pelo que faço. Tenho uma rotina estruturada onde reservo tempo para desenhar, gerir o negócio e comunicar com o público nas redes sociais. Nem sempre é fácil, mas acredito que cada função fortalece a outra.
RC: O que distingue a Had Kets das demais marcas que também se posicionam na moda modesta?
HK: A Had Kets diferencia-se pela autenticidade e pelo cuidado em cada detalhe. Não é apenas sobre roupa, é sobre experiência, identidade e empoderamento.
RC: Que valores são inegociáveis na construção das suas colecções?
HK: Autenticidade, respeito pela diversidade cultural e qualidade. Cada colecção é pensada para refletir esses princípios, porque acredito que moda não deve ser apenas estética, mas também transmitir valores.
RC: Como pretende expandir a Had Kets mantendo a autenticidade e proximidade com o público?
HK: A expansão será feita de forma sustentável e gradual, sempre ouvindo as clientes e mantendo a essência da marca.
RC: Que impacto deseja que as suas peças tenham na autoestima das mulheres que as usam?
HK: Quero que cada mulher se sinta representada, valorizada e confiante. A moda modesta não é sobre esconder, mas sobre revelar a força e a beleza interior de cada uma.
RC: Como vê a moda modesta nos próximos cinco anos em Angola e no mundo?
HK: Vejo um crescimento significativo. Em Angola, acredito que teremos mais estilistas a apostar nesse segmento, e no mundo, vejo a moda modesta sendo reconhecida como uma vertente de elegância global.
RC: Que conselho daria a jovens estilistas que querem criar uma marca com propósito?
HK: Diria que nunca desistam da sua visão, mesmo que o mercado ainda não esteja preparado. Construir uma marca com propósito exige paciência, coragem e resiliência.
RC: De que forma a sua educação entre duas religiões influenciou a sua visão de mundo?
HK: Crescer entre duas religiões ensinou-me a respeitar diferentes formas de pensar e viver. Isso deu-me uma visão mais ampla e tolerante do mundo.
RC: Quem mais a inspira na vida, dentro e fora do universo da moda?
HK: Inspiro-me em estilistas que conseguiram dar voz às suas culturas através do design. Fora da moda, encontro inspiração nas mulheres da minha família, que sempre me transmitiram força, resiliência e fé.
RC: Como gere o tempo entre a faculdade, a marca e a vida pessoal?
HK: Não tem sido fácil. Existem dias em que penso em desistir, mas respeito o meu processo e procuro sempre encontrar equilíbrio. Ainda estou a aprender, mas cada dia fortalece-me.
RC: Qual foi o momento mais marcante até agora na sua jornada como empreendedora?
HK: Um dos momentos mais marcantes foi perceber que podia transformar a minha paixão em profissão. Lembro-me da primeira peça que criei — foi um sucesso e trouxe várias clientes. Mas também enfrentei rejeições, que se transformaram em oportunidades.
RC: Que legado gostaria de deixar para as próximas gerações de mulheres criadoras?
HK: Quero deixar um legado de coragem e autenticidade. Mostrar que é possível criar uma marca fiel aos seus valores e inspirar outras mulheres a acreditarem nos seus sonhos.



Fotografias: Paixão Lemba
Espaço: Monalisa Hotel Residence
Publicado por: Miguel José