O amarelo a tentar roubar a cena. Um bocado de telo pelo meio. Outro bocado de justiça sobre o belo, rigorosamente contemplada por um pneu, que partilha a atenção em medir: por um lado o reclame de uma Madó que gostava de aparecer em tudo que fosse kadiengue, por isso faliu a nação; por outro, busca limite numa lata de leite que suporta o peso de um dos artistas, que projectam o belo.

Sem amarelar, fintam as malambas da vida limpando sapatos, enquanto não poderem sequer pensar engraxar as botas lamarentas de corruptos, exteriorizam o talento sobre o papel em cima de uma tábua qualquer, tentando fazer papel de prancha… É a saia justa da vida, que elas, as crianças, pouco se importam, talvez por inocência…
Estas crianças estão a mostrar que têm vontade, apenas precisam de um espaço para desenvolverem o que lhes tinha sido agraciado pela natureza, e assim poderem cuidar do futuro, porque estariam a projectar empregos. Umas salitas de aulas, com uns artistas para os orientar, dá jeito às mais de 4 milhões de crianças e jovens fora do sistema de ensino (dados do Ministério da Educação) reactivarem o sonho que está a ser “matado” aos malembè.

Uma criança a recolher sucatas na rua é envio, sem ela saber, de uma mensagem clara: o lar que lhes devia proteger garantindo o necessário, está saturado, diria o outro: rebentado. Os pais estão sem alternativa, pior do que fazer vista grossa é talvez estes mesmos os mandarem apanhar tralhas a ver se tentam cumprir com alguma necessidade antes de procurarem o sono. O julgamento até escasseia, talvez seja melhor não apelar por ele, ao invés disso contribuir com uns pãezitos, arroz, óleo…
Aqueles pseudo-fiscais, com aquelas carrinhas para darem corridas às zungueiras, poderiam ser reorientados a procurarem por essas crianças talentosas e porem-nas em internatos para aprenderem artes e ofícios, quando a UNICEF recomenda que é necessário fornecer recursos humanos e financeiros e orientações adequadas para a implementação de políticas e programas essenciais, com vista a reduzir a pobreza e construir uma sociedade mais coesa…
Mas isso custa assim tanto?
O que dizem os Prodesis e pape quanto aos 23% das crianças envolvidas em actividades económicas, de acordo com Instituto Nacional de Estatística? Ou é só PIIMpas para o angolano ler?)
Texto: Pihia Rodrigues
10 de Novembro de 2020 (Actualizado)