Leitores, agentes culturais e apaixonados pela história da cidade do Huambo reuniram-se num evento que ultrapassou o simples lançamento de um livro — foi uma celebração da identidade cultural e da preservação da memória colectiva. O Centro Cultural Manuel Rui, no Huambo, foi palco, na passada sexta-feira, da sessão de venda e autógrafos da obra literária “O Huambo e o Cinema Ruacaná”.
A obra, assinada pelos escritores Manuel Rui Monteiro, Artur da Costa, António Ferreira, António Segadães e Fernando Oliveira, apresenta uma profunda viagem pelas recordações e pelas emoções ligadas ao antigo Cinema Ruacaná, ícone do passado cultural da cidade Baixa do Huambo. Editada pela Mayamba Editora, a publicação de 141 páginas revisita as vivências dos filhos do Huambo, evocando tempos de alento e partilha que, como refere a sinopse, “nenhum futuro conseguirá apagar”.

Com uma tiragem de mil exemplares e um preço de 5 mil kwanzas, a procura pela obra superou todas as expectativas. Das mais de 200 cópias enviadas para a província, nenhuma foi suficiente para satisfazer os amantes da leitura, refletindo a força simbólica que o cinema e a cultura ainda exercem sobre a população local.
Durante a cerimónia, o escritor Manuel Rui, autor da letra do Hino Nacional “Angola Avante”, expressou uma mensagem de profunda gratidão e esperança. No texto que leu, destacou que a obra pretende ser “uma memória futura”, um convite à reflexão e à ação, criando espaços e oportunidades para os jovens do Huambo e de todo o país. Com emoção, deixou uma frase que marcou a tarde:
“Ao nosso teatro, ao cinema e à nossa cultura, havemos de voltar.”
Já o coautor Fernando Oliveira sublinhou que o livro tem como principal propósito sensibilizar para a recuperação do antigo Cinema Ruacaná, destruído durante o conflito armado, e devolver à juventude o prazer de assistir e produzir cinema, à semelhança do que acontecia nas décadas de 1970 e 1980.
Por sua vez, Artur da Costa reforçou que, com as tecnologias actuais, é possível reabilitar infra-estruturas cinematográficas e proporcionar visibilidade aos criadores locais, desde que exista apoio institucional e privado. “O cinema é uma arte cara, e sempre dependerá da cooperação entre o Governo, empresários e artistas”, destacou o autor.
O director do Gabinete Provincial de Cultura do Huambo, Jeremias Piedade Tchissanga, enalteceu o gesto dos escritores, afirmando que a obra cumpre o papel de preservar a memória histórica e projectar a cultura angolana. O responsável revelou ainda que o Ministério da Cultura tem em curso um programa de reabilitação do Cinema Ruacaná, localizado na Avenida da Independência, com o objectivo de devolver à população um espaço de referência cultural e turística no Planalto Central.
“O Cinema Ruacaná é mais do que uma sala de exibição — é um símbolo de gerações, de encontros e de sonhos partilhados”, afirmou Tchissanga, reforçando o apelo à criatividade da juventude angolana nas áreas da literatura, pintura, música, dança e desporto, como forma de continuar a elevar o nome do país além-fronteiras.
Com “O Huambo e o Cinema Ruacaná”, os cinco autores deixam um testemunho vivo de que a arte é também um ato de resistência e esperança, capaz de reconstruir memórias e inspirar futuros — uma verdadeira homenagem à alma cultural do Huambo e de Angola.

