Em exclusivo à Revista Chocolate, gigantes do hip hop angolano — Sandocan, Vui Vui, Extremo Signo, Yannick Cruz e Kid MC — abrem o coração, revivem memórias e projetam o futuro do rap nacional.
Num cenário musical em constante transformação, o hip hop angolano tem resistido ao tempo graças a artistas que fizeram da palavra uma arma, da rima um manifesto, e da música um legado. A Revista Chocolate teve o privilégio de conversar, em exclusivo, com cinco nomes que dispensam apresentações: Sandocan, Vui Vui, Extremo Signo, Yannick Cruz e Kid MC. Ícones de gerações distintas, mas com um ponto em comum, o compromisso inabalável com a autenticidade, com a mensagem e com o crescimento do movimento.

Nesta conversa intimista, os artistas partilharam as suas visões sobre o passado, presente e futuro do rap feito em Angola, refletindo sobre a sua evolução, os desafios do mercado e a urgência de união num meio tantas vezes fragmentado.
SANDOCAN – O Pilar que Não Ruiu
Para muitos, é impossível falar da old school sem mencionar Sandocan. Considerado um dos pilares do movimento, ele confessa sentir-se lisonjeado com o reconhecimento:
“É gratificante demais saber que muitos me consideram um dos pioneiros. Significa que valeu a pena fazer da maneira correta.”
Apesar de ter vindo da velha guarda, o rapper mantém os olhos no presente. Valoriza a garra da nova geração, mas admite que a era digital tornou mais difícil fazer música intemporal:
“Eu prefiro ver as coisas como são e não romantizar o passado. São tempos diferentes. A vontade de vencer da nova escola é admirável.”

VUI VUI – Da Rua para o Mundo
A trajetória de Vui Vui começou no lendário concurso de freestyle do Big Show, na Rádio Luanda. A partir daí, construiu um legado que vai além das rimas:
“Cada fase foi marcante para a minha construção enquanto artista e homem. Tudo começou nas ruas e hoje levamos o nosso som para o mundo.”
Sobre internacionalização, o rapper é claro:
“Já levamos a nossa arte para fora, mas a minha preocupação hoje é profissionalizar o nosso ecossistema aqui dentro. Só assim seremos fortes lá fora.”

EXTREMO SIGNO – O Mensageiro do Povo
Com a sua lírica densa e crítica, Extremo Signo continua a usar o microfone como megafone do povo:
“A minha maior inspiração sempre foi o povo angolano. As suas vivências, dores, alegrias — tudo vai para a música.”
Recentemente, surpreendeu ao unir forças com Kid MC, num gesto de maturidade e união:
“O álbum RESTART simboliza o fim de uma temporada hostil. Chegou a hora de mostrarmos que mais vale criar alianças do que inimizades.”

YANNICK CRUZ – A Voz da Alternativa
Sem nunca seguir modas ou ceder à pressão dos beefs, Yannick Cruz construiu uma identidade única:
“A nossa identidade foi cimentada com música alternativa. Sobrevivemos a todas as fases mantendo a nossa essência.”
Ele alerta para a falta de interesse de muitos jovens pelo rap clássico e reforça a importância de se manter ativo:
“É preciso lançar álbuns, mixtapes, criar shows. Estamos vivos no movimento e queremos que ele continue forte.”

KID MC – Consistência e Renovação
Reconhecido pela sua coerência e profundidade temática, Kid MC continua a reinventar-se sem perder a identidade:
“A minha evolução artística obedece os contextos. Estou a explorar novas sonoridades e a dar voz a temas que precisam ser discutidos.”
Com o álbum Restart a caminho, a sua parceria com Extremo Signo promete marcar um novo capítulo no rap nacional:
“O lançamento será ainda este ano, seguido de um show de apresentação. Depois, seguimos com as nossas carreiras a solo.”

Em tempos de algoritmos e hits efémeros, é revigorante ver que há artistas que continuam a escrever história com substância. Estes cinco nomes provaram que o hip hop angolano não só tem raízes profundas, como também visão de futuro. E quando os pilares se unem, ninguém derruba a casa.
