Cada peça esculpida por artesãos e artesãs na província de Cabinda carrega a alma de um povo. Mais do que arte, as esculturas narram histórias que atravessam gerações e enraízam-se na identidade cultural local. Uma das mais emblemáticas é a figura da “Mulher Maiombe”, originária do Norte da província, retratada a carregar uma cesta às costas — o “Intente” — cheia de produtos do campo, enquanto segura uma criança ao colo.

Segundo o tradicionalista Januário Macaia, esta escultura simboliza a força, coragem e independência da mulher, especialmente no contexto doméstico e agrícola. “No passado, a mulher era aceite para o casamento consoante a sua dedicação ao trabalho”, explicou o ancião, realçando o papel feminino como pilar da família e da sociedade.
Para além da mulher, a relação entre o homem e a natureza também é exaltada nestas esculturas. Figuras como o “Nbuezi” (caçador), o “Nluazi” (apanhador de dendém) e o “Nlombi” (pescador) representam actividades ancestrais essenciais para a sobrevivência das comunidades locais. A caça, por exemplo, era acompanhada de rituais espirituais, com oferendas e cerimónias de purificação, que serviam não só para garantir o sucesso da empreitada como para preservar o respeito pela vida animal e a harmonia com a floresta.
Estes registos esculpidos preservam, assim, a memória colectiva de um povo resiliente e profundamente ligado à terra e aos seus costumes. Em cada figura, há uma história, uma crença e uma herança cultural viva — que resiste ao tempo e continua a inspirar gerações.
Texto: Gracieth Issenguele