Não é de hoje que Kim Jones, o diretor criativo da Dior Men, recorre aos arquivos de alta-costura da marca para se inspirar. Para o Inverno/Cacimbo (em Angola), apresentado na sexta-feira, 24 de janeiro, em Paris, a principal referência foi a Ligne H.
Lançada por Christian Dior na coleção de inverno de 1954, a silhueta Ligne H destacava-se pelo corte próximo ao corpo, reto, com comprimento logo abaixo do joelho. Caracterizada frequentemente por abotoamento, a linha apresentava uma espécie de costura frontal que achatava o busto e criava uma forma geométrica semelhante à letra “H”.







As interpretações contemporâneas de Kim Jones estão especialmente visíveis nos looks 12, 15, 22, 37 e 48, mas a influência permeia toda a coleção de diferentes maneiras. Casacos apresentam pregas ou dobraduras na área das clavículas, criando um volume sutil com caimento vertical. Tricôs com gola canoa produzem o mesmo efeito quando combinados com blusas de colarinho reto.
Mais ajustada e com uma modelagem estreita, a linha H original foi concebida como uma resposta aos excessos de temporadas anteriores. Por sugerir uma silhueta inovadora para a época, tornou-se uma das propostas mais controversas de Christian Dior.




Agora, Kim Jones adota um exercício semelhante, apostando na redução e na simplificação visual. No entanto, de simples, estas peças não têm nada. Comparado às coleções anteriores, o inverno 2025 da Dior Men minimiza bordados e estampas, focando-se em silhuetas, volumes e construções sofisticadas.
As poucas decorações que aparecem são laços acetinados nos sapatos, bordados discretos que remetem a padronagens tradicionais da moda masculina — como risca de giz, espinha de peixe e listras — e acessórios como brincos, broches e cintos de prata. Estes detalhes foram inspirados num bordado da coleção de alta-costura de verão de 1948. Uma reprodução desse bordado é apresentada no robe que encerra o desfile, simbolizando o equilíbrio entre tradição e modernidade.




Kim Jones prova, mais uma vez, que a história da Dior é um terreno fértil para reinvenções que dialogam com a contemporaneidade, sem perder a essência da sofisticação.