’JOVEM FELIZ, ANGOLA FELIZ’’
No mês em que prestamos homenagem às Mães, é impossível não pensar automaticamente naquela que já se tornou mãe, tia, avó e amiga de todos os Angolanos: Kanguimbu Ananaz!
Quem tem o privilégio de privar com ela não consegue ficar imune àquela sensação de abraço, mimo e colo maternos, tal é a candura, a doçura e a calma com que comunica connosco.
É escritora, psicóloga, conselheira social, professora, activista e tantas outras coisas, mas todas têm em comum o altruísmo e a vontade de partilhar, ‘’tenho um vaso dentro de mim, que contém amor, solidariedade, fraternidade e espírito de partilha’’.
E é por ter esse espírito de partilha que escreve essencialmente livros infanto-juvenis, ‘’‘falar da literatura infanto-juvenil é falar também do meu percurso enquanto menina, pré-adolescente e jovem. Cresci com valores e princípios educacionais, rodeada de amor e bons exemplos’’, diz com emoção, ‘’vi que há uma carência grande, do ponto de vista afectivo e não só, então dentro da minha responsabilidade, vou doar aquilo que aprendi também, porque isso é uma inquietação enquanto cidadã’’.
Os livros são a sua vida, o seu escape e a sua terapia, portanto não é de estranhar que tenha escolhido a União dos Escritores Africanos para esta entrevista, com milhares de livro como pano de fundo.
Além disso, a União (que frequenta desde 1985 e que é a sua casa) foi onde tudo começou, de certa forma. ‘’Quando vim para Luanda, timidamente comecei a mostrar o que escrevia e as pessoas gostavam e diziam para ir à União dos Escritores. E eu vim e deixei os meus escritos’’. Daí iniciou-se um longo percurso de muito estudo, muito dedicação e muita exigência. A escritora teve o privilégio de ter mentores de peso ao seu lado, verdadeiras sumidades da literatura e não só, que a acompanharam, incentivaram e orientaram, ‘’não foi fácil, foi uma conquista (…) li muito, estudei muito, aprendi grafias, pronúncias, tudo. Foi um constante aprendizado e sou grata a todos, bebi muito deles’’.
Maria Manuela Cristina Ananaz, cujo heterónimo literário é Kamguimbu Ananaz, nome do seu avô. ‘’Meu bairro/ forte de Santa Rita (…) Meu musseque onde nasci/ meu umbigo caiu(…)’’, escreve orgulhosamente nos versos de ‘’Seios do Deserto’’, o seu primeiro livro.
Um orgulho não só na sua naturalidade, mas na sua família, que refere constantemente e que é responsável pela sua sensibilidade e pelos seus prezados valores. Conta que ‘’tive uma infância muito boa, sou a nona filha de 14. Não cresci com muita saúde porque tive uma paralisia infantil, mas tive todo o acompanhamento e apoio da minha família, principalmente das minhas irmãs mais velhas que deixaram de estudar para cuidar de mim. Mesmo na escola e na comunidade toda a gente me tinha muito carinho! Cresci rodeada de amor!’’. Depois de um silêncio emotivo acrescenta, ‘’não sou a melhor, mas sou diferente porque recebi alguma coisa’’.
Da mãe recebeu o casaco de psicóloga, ‘’muita gente com problemas recorria à minha mãe, ela ajudava todos’’. Um casaco que enverga constantemente e com muita honra, com a fé (e provas) de que pode fazer a diferença na vida dos outros, focando-se sempre na educação e formação como base de tudo. ‘’Há valores que precisamos de recuperar. Não nos podemos cansar de falar daquilo que é bom. Não vamos apontar o dedo aos jovens, eles são fruto da educação dos adultos. As mães lavadeiras, kitandeiras, peixeiras, sem saber ler nem escrever instruíram os grandes homens de hoje, portanto é só mesmo uma questão de princípios’’.
Tia Kanguimbo é uma mulher madura mas longe de dar por terminada a sua jornada de aprendizagem e de partilha, ‘’incessantemente vou à procura do saber, enquanto académica e enquanto pessoa’’. Já nos deu muito e continua a dar, mas quer ser vista e lembrada simplesmente como ‘’uma pessoa de bem, uma boa cidadã, que exala um perfume que se chama amor’’.
Artigo publicado inicialmente no editorial de Maio