A renomada fashion designer Nadir Tati concedeu uma entrevista exclusiva à Revista Chocolate Lifestyle em alusão ao Mês da Mulher. Reconhecida internacionalmente, não só revolucionou a moda angolana como a posicionou no cenário global. O seu percurso é um testemunho vivo da força da cultura angolana aliada à modernidade.
“Defino o equilíbrio entre tradição e modernidade na moda como uma fusão harmoniosa entre a identidade cultural angolana e as exigências da contemporaneidade. A tradição é a base e sempre representada pelos tecidos africanos, símbolos ancestrais e histórias que carregam a essência da cultura angolana. Já a modernidade surge na forma como esses elementos são reinterpretados por meio de cortes sofisticados, silhuetas elegantes e técnicas inovadoras”, partilha a estilista. Esse equilíbrio reflete-se no seu trabalho, elevando tecidos icónicos como o Samakaka a um patamar de alta-costura, culminando em reconhecimentos como a sua apresentação na UNESCO, em Paris.

Mais do que vestir, Nadir vê a moda como um meio de transformação social. Com formação em criminologia, compreende como a moda pode resgatar identidades, fortalecer a autoestima e criar oportunidades para grupos marginalizados. Os seus projetos sociais capacitam mulheres em situação de vulnerabilidade, promovendo a inclusão e o empreendedorismo. “A moda vai muito além da estética, ela pode ser um meio de resgatar a identidade cultural e fortalecer a autoestima”, afirma.
Sendo a primeira estilista angolana a vestir uma atriz para os Óscares, considera esta conquista coletiva para a moda angolana. “Essa presença num dos maiores eventos do cinema mundial reafirma que Angola tem talento, criatividade e identidade cultural para se destacar no cenário internacional.” Distinções como a Medalha de Mérito do Presidente da República e prémios como Sirius e Diva da Moda de Angola reforçam o impacto da sua trajetória.
A industrialização da moda angolana ainda é um desafio, pois a falta de produção em larga escala limita a competitividade global. “Nigéria, Gana e África do Sul já produzem em larga escala, enquanto Angola ainda precisa de investir mais neste setor”, destaca Nadir. A sustentabilidade também ganha relevância, com designers africanos a apostarem em tecidos ecológicos e processos manuais para reduzir o impacto ambiental. “A valorização dos tecidos africanos e a produção local reduzem a dependência de importações e fortalecem a economia nacional.”

Com um olhar atento ao futuro da moda angolana, deixa um conselho inspirador: “A moda angolana tem um futuro brilhante, mas depende de vocês, os jovens talentos, para levá-la ainda mais longe. Trabalhem com paixão e compromisso e, acima de tudo, honrem a vossa identidade africana.”
Com a sua visão e talento, Nadir Tati continua a provar que a moda é muito mais do que roupa – é identidade, história e futuro.




Por: Gracieth Issenguele
Fotografias: Paixão Lemba