Grito de socorro do reputado actor angolano Sílvio Nascimento ecoou num auditório expressivamente composto por uma delegação da ONU e produtores culturais de diferentes países africanos. Grupo de funcionários da da organização internacional esteve em visita na manhã de sexta-feira ao Palácio de Ferro, em Luanda, no âmbito do dia Internacional dos Museus, a ser comemorado 18 de Maio.

O actor foi convidado numa mesa-redonda que se seguiu a uma visita guiada e um concerto do músico Jay Lourenzo e direcção artística de Nino Jazz, no palco principal do histórico edifício. Os músicos revisitaram um pouco o cancioneiro angolano e temas novos de Lourenzo, o que levou o público, em grande número membros da ONU, ao êxtase.
Nem a barreira da língua pôde mostrar-se eficaz para escudar o desabafo do actor, já que estavam disponíveis no cada vez mais apetrechado auditório aparelhos que permitiam escutar a tradução inglês – português e vice versa.

“As televisões públicas em Angola não exibem os nossos filmes. Isso é loucura. Isso não é normal”, admirou o artista, desafiando os presentes a estarem atentos nos período depois do noticiário se passa nas telas alguma estória que não seja turca, chinesa, coreana ou brasileira…
“Nós já encontramos o nosso campeão”
“Isto não pode ser verdade!”, foi a expressão que só faltou sair da boca, mas o semblante de alguns estrangeiros no anfiteatro do Palácio de Ferro já denunciava, embora a opinião parecia não ter apanhado os angolanos de surpresa, já andam calejados.
O debate esteve em volta das indústrias culturais e criativas, tendo o actor lamentado à falta de casamento entre os artistas e as instituições governamentais.
“Nós já encontramos o nosso campeão. Essa pessoa que fala, longe de querer protagonismo, eu criei um festival de cinema, em minha casa, com dois, três colegas…”, referindo-se ao Unitel Angola Movie, em que é cofundador.

“O que nós não temos é um casamento com o governo. Então dá uma ideia de que nós estamos quase a ficar sem saída, porque tudo que nos pedem para fazer, nós já fizemos”, diz.
“Só para um pequeno exemplo, existem em Angola filmes, novelas que estão produzidas, algumas estão nas gavetas das casas dos produtores. No entanto, as televisões públicas em Angola não exibem os nossos filmes. Isso é loucura. Isso não é normal”, lamenta.
Sílvio Nascimento defende, igualmente, a criação de um banco cultural, um lugar, refere, onde os artistas e produtores culturais pudessem ir buscar dinheiro com um tempo de carência para a produção nacional elevada.
“Só assim, e isso não é só em Angola, não é em Moçambique, não é só na Guiné, é em África. Nós precisamos de ser África”, reforça.


Texto: Pihia Rodrigues