Kuduristas que contam consideráveis cacimbos de carreira manifestaram indignação por não constarem no grupo de artistas que fazem périplo por diferentes cidades do País actuando nos espectáculos realizados pela Arca Velha e L&S Republicano. O grito foi solto no programa Made in Angola Especial, da Tv Zimbo, (re) emitido no domingo, onde se abordou da história e actualidade do estilo urbano que emergiu em finais da década de 1980.

Agre G foi o primeiro a meter a boca no trombone, com aparente agastamento que a situação lhe vem causando.
“Aqui nesta sala quem foi convidado nas festividades dos 50 anos da independência?”, desafiou, acolhendo, com o silêncio, o apoio dos colegas. “Estão a privilegiar kuduro das bananas”, continuou o autor “Do milindro”, numa clara crítica a certa obscenidade que domina o género e que muitos animadores a usam como trampolim para projectarem mais a imagem do que a carreira.
Príncipe Ouro Negro, que forma a dupla Namayer, com Presidente Gasolina, protagonistas de um atropelo consciente e propositado da língua portuguesa, o que ousaram em chamar Linguajar, afinal, a arte é um erro!, cogitou outro dia Jomo Fortunato. O príncipe dos zucas não foi poupado do esquecimento. Nem a coroa arrebatada no Brasil brilhou suficiente para secar as barbas de Damásio e Republicano, que há muito andam de molho na sauna do erário. O rei do kuduro, dos brasileiros, chegou mesmo a revelar o medo que o persegue.
“Isto vai tirar o pão dos meus filhos…”, alertou terminando com o célebre apelo, “num faça yaiço!”.

O rei do burguês, outro desvio da língua para consolidar a afirmação da identidade do Kuduro, Bobany King, na sua alocução, num refinado burguês de exígua percepção para um terráqueo comum, graças a decodificação de um outro colega de longos tamborilhas, Puto Lilas, pudemos entender, em linhas gerais, que não perfilava no mesmo muro das lamentações. O discurso pausado até podia convencer que era da dificuldade de articular ou construir frases assertivas, não fosse o próprio a deixar cair tudo. Confessou que procurava palavras para evitar ferir sensibilidades. O que é facto é que não concordava. A experiência terá falado mais alto do que a emoção, já que a represália neste game manifesta-se com um rancor desmedido, que ultrapassa, de longe, o campo profissional. Então, com a fé na esperança, talvez quisesse o rei do burguês evitar comprar guerras que não pode combater.
No debate, conduzido por Miguel Neto e Bráulio dos Anjos, estiveram ainda nomes conhecidos como o DJ Pedjony e Chicoica.
Kuduro no espectáculo
Numa pequena busca pelos cartazes publicitários dos espectáculos nas cidades do País, que marcam os 50 anos de independência, pudemos constatar o alinhamento de alguns nomes sonantes do Kuduro, antigos como os da nava vaga. Convites gravitam entre Noite e Dia, Jéssica Pitbull, Mirelson King, Os Lambas, Titica, Delero King, W King, Eman chabas e Mapa do Kuduro. Embora não esteja claro o critério da convocação, infere-se alguma tentativa de inclusão de mais velhos como novos do estilo urbano.
As festividades dos 50 anos de independência arrancaram no princípio deste mês na cidade de Ndalatando, até então, a caravana já avançou em três cidades. É uma realização do Governo angolano, sob a produção da L&S Republicano e Arca Velha.
Segundo uma nota do grupo organizador, a iniciativa visa promover a cultura nacional e o talento local, com eventos em diversas províncias. A caravana inclui artistas consagrados e novos talentos, com o objectivo de fortalecer a ligação entre criadores e público, promovendo o orgulho nacional.
Por: Pihia Rodrigues
