Às vezes, não somos mais do que atores cansados a repetir falas antigas num palco gasto. Acordamos, comemos, corremos, reclamamos, sonhamos e dormimos. No outro dia, tudo de novo, mudam os cenários, mudam os figurinos, mas o enredo parece o mesmo. Será que vivemos por escolha… ou por repetição?

Há quem diga que a repetição é uma forma de sobrevivência. Afinal, o que é a rotina senão uma forma de nos agarrarmos àquilo que conhecemos? Repetimos porque dá conforto, porque pensar cansa, porque improvisar assusta.
Mas a repetição tem um preço, quando deixamos de questionar por que fazemos o que fazemos, quando seguimos o fluxo só porque todos seguem, estamos a viver… ou só a existir? Olha bem para ti, já te perguntaste por que usas certas palavras quando estás nervoso? Por que te defendes da mesma forma quando alguém te critica? Por que amas como amas? Talvez seja porque alguém te ensinou assim, tu nem percebeste que aprendeste.
Repetimos gestos, opiniões, padrões de comportamento, repetimos feridas, às vezes repetimos até os erros dos nossos pais, mesmo depois de termos prometido que faríamos diferente. Mas nem toda repetição é má, há beleza em certos ciclos, como o girar da terra, o pulsar do coração, ou aquele abraço que sempre damos a quem amamos. O problema não é repetir, o problema é não saber por que se repete.
Talvez a liberdade comece quando interrompemos um gesto automático e perguntamos: “Isto ainda faz sentido?” E aí, quem sabe, deixamos de viver por repetição… e começamos a viver por intenção.
Texto: Winia Silvana