Márcia é muito mais do que uma artista. Cantora, compositora e empreendedora cabo-verdiana, a sua jornada é marcada pela resiliência, reinvenção e uma visão multicultural que transcende fronteiras. Em entrevista exclusiva à revista Chocolate Lifestyle, a artista partilhou detalhes sobre a sua participação como speaker no Leading Women Summit 2025, um evento organizado pela Forbes Women na África do Sul, e refletiu sobre a sua trajetória profissional e pessoal.
Ser convidada como oradora num evento de tamanha magnitude é um reconhecimento incontestável. “Fiquei mesmo surpresa quando recebi o convite! É uma honra fazer parte de uma plataforma tão prestigiada, ainda para mais num evento pensado para mulheres líderes. Ser considerada uma delas é algo que me deixa muito grata”, partilha Márcia. No palco do Leading Women Summit, a artista abordou a interseccionalidade cultural e o seu impacto na inovação e criatividade — um tema que reflete diretamente a sua experiência de vida.

Para Márcia, a identidade é um mosaico de experiências. “Sempre vivi a minha interseccionalidade naturalmente, sem sequer me aperceber. Só quando me mudei para os EUA é que comecei a refletir sobre isso”, conta. A sua arte é uma fusão de todas as culturas que a influenciaram: “No design, combino o rigor que aprendi na Alemanha com a estética que desenvolvi nos Estados Unidos, sem nunca deixar de incorporar a minha herança africana.”
A multifacetada artista expandiu a sua criatividade para o empreendedorismo, criando uma linha de skincare que reflete a sua visão holística sobre estética e bem-estar. “Cada campo alimenta o outro”, explica, ao destacar como a disciplina do design impactou a forma como gere os seus negócios.

O desafio da mulher na indústria
Márcia não ignora os desafios que as mulheres africanas enfrentam na música e no empreendedorismo. “A falta de equidade e o facto de muitas vezes não sermos levadas a sério continua a ser um obstáculo. A falta de regulamentação na indústria musical torna o ambiente ainda mais caótico”, denuncia. No entanto, acredita que as mulheres possuem qualidades que fazem delas grandes líderes: “A nossa conexão com a intuição, capacidade de conexão e discernimento são essenciais para o mundo de hoje.”
Após dez anos afastada dos palcos, Márcia regressa com uma nova abordagem e maior autonomia sobre a sua arte. “Esse tempo foi essencial para me redefinir enquanto artista e pessoa. Hoje, tenho um controlo muito maior sobre a minha criatividade e estou a encarar a minha carreira de forma mais estratégica”, afirma.
A resiliência de Márcia foi testada quando o seu filho passou por uma crise de saúde. “Foi um momento tão intenso que senti como se tivesse perecido e voltado à vida com ele. Essa experiência mudou a minha perspetiva. Se sobrevivi a isso, sei que posso enfrentar qualquer desafio.”
Ao olhar para trás, a artista deixa um conselho valioso à sua versão mais jovem: “Protege-te e contrata um advogado. Isso vai-te poupar muitas dores de cabeça.” Ainda assim, reforça a importância de manter a essência e leveza na caminhada.

O futuro de Márcia continua a ser promissor. Para além da música, deseja expandir a sua agência criativa, Maison Lalopa, e consolidar-se como designer de interiores. Mas, acima de tudo, tem um sonho simples e poderoso: “Continuar a ser uma boa mãe e construir um legado que respeite o meu ritmo e os meus valores.”

Por: Gracieth Issenguele
Fotografias: Maria Rita