A tradicional e emblemática Samakaka, pano de forte expressão cultural no sul de Angola, está no centro de um profundo processo de investigação multidisciplinar que visa a sua elevação a Património Imaterial Nacional. Segundo o Jornal de Angola, a iniciativa envolve um grupo de investigadores nas áreas da História, Antropologia e Linguística Bantu, em articulação com o Gabinete Provincial da Cultura e Turismo da Huíla e várias organizações não governamentais.

Segundo o investigador cultural António Ndielemo, o estudo científico visa compreender as razões históricas, estéticas e simbólicas que levam os povos Bantu a valorizarem a Samakaka, especialmente no que toca à preferência pelas cores predominantes — preto com vermelho, branco ou amarelo. “Percorrendo as aldeias da Huíla, Namibe, Cunene, Cuando Cubango e províncias adjacentes, notamos uma constante escolha por cores quentes e vibrantes, o que levanta hipóteses sobre a sua ligação à atratividade visual e ao simbolismo ancestral”, explicou.
Apesar do pano ser atualmente produzido no exterior, a sua identidade cultural permanece enraizada no Sul de Angola. Com diferentes formas de uso — desde vestuário a rituais tradicionais — o pano representa mais do que estética: é uma expressão viva das práticas, crenças e modos de vida de vários grupos etnolinguísticos.
A proposta de reconhecimento foi já entregue ao Instituto Nacional do Património Cultural, contendo um extenso rascunho que justifica a importância do tecido, a sua ligação ao termo Omakaka (significando verdura ou folhas rasteiras como da abóbora e feijoeiro), bem como o seu papel simbólico em eventos como o Efiko (puberdade), Ekwendje (circuncisão), Onjelwa (consagração do boi principal do curral) e o Epito Pondjo (primeira saída do bebé).

A historiadora Maria Guilhermina reforça que, apesar das discrepâncias nos dados recolhidos, é imprescindível a partilha e comparação entre todos os estudiosos envolvidos, já que muitos têm actuado no terreno com o apoio de autoridades tradicionais e usuários directos da Samakaka. “Este cruzamento de fontes é essencial para garantir um processo de classificação rigoroso e culturalmente representativo”, sublinhou.
Embora o plano inicial previa a conclusão ainda este ano, os investigadores admitem que o processo poderá estender-se, dada a complexidade da análise e validação dos dados históricos. O reconhecimento oficial da Samakaka como Património Imaterial Nacional será não só um passo para a preservação da identidade dos povos do sul, mas também um tributo à resistência estética e cultural que se perpetua no tempo.
Texto: Gracieth Issenguele
