A arte de esculpir madeira, profundamente enraizada na cultura Bantu e nas Terras do Mayombe, está em risco de desaparecer em Cabinda. Os artistas locais denunciam a escassez de espaços para expor e vender os seus trabalhos, agravada pela fraca presença de turistas, principais consumidores dessas peças.

Nos últimos cinco anos, os artesãos enfrentam sérias dificuldades de mercado. Sebastião Guilherme, responsável da Casa dos Associados dos Artesãos de Cabinda, revelou ao Jornal de Angola que a pandemia forçou o encerramento de um dos pontos de venda mais lucrativos — o Campo Petrolífero de Malongo — que desde 2020 continua inacessível, apesar dos pedidos de reabertura.
“Ultimamente passamos vários meses sem vender uma só peça”, lamentou. A produção mantém-se viva, mas a falta de escoamento e preconceitos locais contribuem para o abandono da profissão por parte de muitos. “Só o Governo Provincial ainda compra, e somente em ocasiões especiais”, explicou em declarações ao Jornal de Angola.
Para além das questões económicas, há ainda barreiras culturais. Eduardo Luemba, também artesão, denuncia um preconceito persistente: muitos habitantes de Cabinda evitam comprar esculturas por acreditarem que estas estão ligadas a forças ocultas. “Dizem que falam à noite e andam”, contou, referindo-se a mitos antigos que afastam ainda hoje compradores locais.

Enquanto os turistas não regressam e os tabus persistem, os poucos artistas que resistem fazem-no com fé no valor da sua arte e na esperança de dias melhores.
Texto: Gracieth Issenguele