Sendo Maio o mês das mães, falamos um pouco sobre as sociedades matriarcais e do peso e importância que estas tiveram no passado e ainda têm em certas sociedades actuais.
O matriarcado é o primeiro sistema social humano, que marca o fim da (des)organização ‘’animal’’. Na promiscuidade primitiva, somente a filiação materna poderia ser provada, além disso, os primeiros seres humanos não estavam cientes das funções dos dois sexos na procriação e a maternidade era percebida como algo pertencente ao sobrenatural, do qual o corpo da mulher era depositário.
As mulheres nem sempre foram dominadas. Ao contrário, muitas populações antigas conheceram uma sociedade onde o lugar das mulheres era mais importante em termos de comportamentais; sociais; políticos e simbólicos, do que as dos homens. Estas sociedades não são uma invenção de teóricos, uma vez que são encontradas nos seguintes casos (entre tantos outros): Celtas, Bascos, Ligurianos, Vikings, Borgonheses, Tuaregues, Trobriandos, Inuítes, Iroqueses, Comores, Kerala, Moso, Mosuo, Khasi, minagkabau, Jaintia, Judeus, Berberes, Karens, Jivaros, Boschmans, Malikus, Naxis, Garos, Marshalleses, Bunts, Filipinos, Navajos, Hopis, Sirayas, Núbios, Bamendas, Bateks, etc. Encontramos muitas vezes o matriarcado nas origens dos povos, de todos os tipos e em todos os continentes. Mesmo os povos que se tornaram patriarcais muitas vezes mantiveram antigas tradições matriarcais.
A nossa sociedade (ocidental) actual é uma dessas, baseada no patriarcado, isto é, uma organização social e jurídica baseada na autoridade predominantemente masculina. Embora isso esteja a mudar gradualmente, existem tribos e povos para os quais tal coisa não é e nunca foi relevante.
A expressão matriarcado, simétrica ao termo patriarcado, pode sugerir uma inversão de relações de poder, mas não, é frequentemente uma relação em que o carácter do poder é muito diferente. Engloba uma ampla variedade de situações que têm em comum o facto das mulheres serem consideradas a base da sociedade. A ideia de poder feminino – muitas vezes confundida com deixar uma mulher governar – é falsa, porque pressupõe um poder do Estado, enquanto que, pelo contrário, em geral não há Estado. É um tipo familiar de organização chamado “sociedade gentílica”, que prima pela igualdade social.
Mais especificamente em África, o matriarcado negro tem origem no antigo Egipto, onde a união matrimonial conferia ao homem e à mulher os mesmos direitos, havendo mesmo uma consideração maior ao género feminino. Esse sistema social do Egipto viu-se perpetuado nos subsequentes reinos e impérios negros.
A mulher desempenhou um papel importante porque foi ela quem transmitiu todos os direitos políticos aos homens que se elevaram como reis ou imperadores (ainda prática comum entre os Yorubas-Shabe, do Benim). Ela nem sempre exercia como soberana porque as actividades como a guerra e a caça eram reservadas aos homens. Outro exemplo, no reino de Dahomey, especialmente conhecido pelas suas amazonas, existia uma paridade homem-mulher na organização política. Para cada função ministerial exercida por um homem, havia um paralelo feminino.
Nestas sociedades pratica-se a matrilinearidade (descendência assegurada pelo lado materno), porque a paternidade ou hereditariedade da mãe é certa, ao contrário da do pai, portanto, a descendência e a herança estão de acordo com a linhagem das mulheres e o matrimónio é matrilocal (é o homem que vai para a casa da mulher) e é a mãe que exerce autoridade sobre os filhos.
Esse sistema social baseado na espiritualidade dos grupos foi destruído pela influência das religiões estrangeiras (islamismo e cristianismo) e da colonização, que tornaram as mulheres subordinadas aos homens. No entanto, nas práticas actuais, subsistem alguns fenómenos matriarcais, como o lugar dado às mães-rainhas dentro da organização social e política, a proximidade entre as crianças e a família das suas mães, a matrilinearidade (por exemplo os Kom dos Camarões, os Bemba da RDC e Zâmbia, e muitos outros povos africanos).
É verdade que as sociedades matriarcais que ainda restam diferem um pouco entre si, mas todas assentam no conceito de comunidade, todos participam em tudo, inclusive na educação das crianças, há uma maior partilha de responsabilidades. Acabam por ser sociedades onde há mais justiça e equidade, assim como uma maior troca de afecto, sem tabus. Acima de tudo, destaca-se o facto de todas elas serem sociedades pacíficas, onde reina o princípio da não-agressão.
Talvez esteja na altura de repensarmos as estruturas das nossas sociedades e tomarmos como exemplo o que de bom há nestas outras, que se mantiveram e subsistiram ao longo de séculos, sem guerras, sem conflitos e acima de tudo com união, em prol de um bem maior.