O Museu Real da África Central, em Bruxelas, transformou-se no último fim-de-semana num verdadeiro epicentro cultural angolano. Durante dois dias, arte, cinema, dança, debate e gastronomia cruzaram-se para celebrar o Jubileu da Independência Nacional no âmbito do projeto “Angola 50: a memória dos pais esquecidos”, uma iniciativa que pretende reavivar a história e reforçar a identidade coletiva.

Idealizado pela curadora e estilista angolana Nicole Kanda, residente em Bruxelas, o evento reuniu projeções de filmes, uma mesa-redonda centralizada no tema “Angola: qual o legado dos Pais da Independência?”, exposições, oficinas e um encontro multicultural que trouxe, para a capital da Europa, a força e a sensibilidade da memória angolana.
Em declarações ao Jornal de Angola, Nicole Kanda sublinhou que o projeto propõe “uma viagem pela memória histórica, pela arte contemporânea e pela celebração cultural”, com o objetivo de criar um espaço onde o conhecimento e o diálogo floresçam. Para a curadora, esta é também uma oportunidade para que os angolanos e os amantes da cultura africana mantenham contacto vivo com a História.

O projeto é, segundo a promotora, uma homenagem direta aos Pais da Independência e uma forma de aproximar gerações:
“Foi idealizado para permitir que os angolanos redescobrissem a sua história, deixassem de a ignorar e tomassem maior contacto com a mesma.”
A mensagem é clara: contar para não esquecer. Preservar para não apagar os rostos, as lutas e os feitos daqueles que contribuíram para libertar Angola do jugo colonial português.
Mesa-redonda revisita o legado dos heróis nacionais
O ponto alto do programa foi a mesa-redonda que reviveu os atos mais simbólicos das figuras icónicas da luta de libertação: António Agostinho Neto, Jonas Savimbi e Holden Roberto. O debate mergulhou na herança deixada por estes líderes e na forma como a História continua a moldar o presente.
Cristiano Mangovo leva a consciência social às paredes do museu
O evento ganhou ainda mais brilho com a exposição do artista plástico Cristiano Mangovo, cuja colecção apresentada denuncia o impacto das decisões económicas e políticas sobre as preocupações sociais e ambientais. As obras chamam a atenção para a exploração dos solos e dos recursos naturais, lembrando que a História de Angola vai além de datas — é feita de rostos, memórias, lutas e resistência colectiva.
O público teve oportunidade de conversar com o artista num ambiente informal, permitindo uma reflexão sobre a arte como instrumento de reconciliação entre memória e modernidade.
“Sambizanga”: o cinema como testemunho da coragem feminina
A programação cinematográfica destacou o clássico “Sambizanga”, da pioneira Sarah Maldoror, um tributo à força das mulheres na luta pela independência. A exibição foi antecedida por um debate sobre o legado dos Pais da Independência, reforçando a importância da transmissão e da responsabilidade colectiva na construção da narrativa histórica.
Dança e sabores africanos encerram a celebração
O último dia do evento, dedicado à dança, contou com oficinas de kizomba, semba e danças afro-lusófonas, conduzidas pela Escola KikiZomba, também sediada em Bruxelas. A gastronomia africana marcou presença, encerrando a iniciativa com uma fusão sensorial que reafirma a riqueza cultural do continente.
O projecto “Angola 50: a memória dos pais esquecidos” prova que celebrar a História é também reafirmar identidade, promover diálogo e construir pontes entre gerações — dentro e fora de Angola.