Vivemos entre dois espelhos: o que nos marca e o que nos revela. O “eu” marcado é aquele que o mundo insiste em moldar pelas expectativas, pelas normas, pelas experiências que nos tatuam a alma, umas com delicadeza, outras com dor. É o rosto que mostramos no trabalho, nas redes sociais, nos eventos sociais. A versão polida, adaptada, muitas vezes sacrificada, do que realmente somos.

Mas há também o “eu” real. A mulher que acorda com pensamentos soltos e sonhos por cumprir. Que, apesar dos dias difíceis, insiste em recomeçar. O eu que sente, que hesita, que ama sem pedir licença. Que diz “não” quando precisa, e “sim” quando quer mesmo que isso desagrade.
O eu marcado e o eu real nem sempre caminham de mãos dadas. Por vezes, entram em conflito. Mas é nesse confronto que nascem as versões mais autênticas de nós mesmas. Porque ser mulher é, muitas vezes, dançar entre o que esperam de nós e aquilo que realmente somos.
Nesta vida de filtros, vozes externas e múltiplas personagens, é urgente encontrar tempo para escutar o nosso silêncio, valorizar as nossas verdades e, sobretudo, acolher a nossa complexidade. Somos muitas em uma só e está tudo bem, celebra esse feminino plural, imperfeito, mas profundamente real.
Texto: Winia Silvana